sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO - POETA DA "URBS"

Activismo, Pulsão e Ebriedade

António Pedro Ribeiro (Porto, Maio de 1968) restaurou o antigo hábito dos “rapsodos” e dos “menesteres”, levando a poesia de lugar em lugar. Em suas andanças revelou-se o poeta da catarse que tem o mérito de trazer à superfície o traço do gozo perdido que só pode ser reencontrado no excesso, no gozo suplementar que se faz suporte da fantasia, receptáculo da causa do desejo. A sua escrita - performance - surge-nos imbuída de um pendor activista. Também aqui uma poesia - enquanto veículo terapêutico-existencial - (mega)político – que oscila entre o catártico e o des-construtor. Poderíamos mesmo falar de uma poética metropolitana: da “urbs”. Trata-se, pois, de uma obra “engajada” - das intro(pro)jecções - ancorada na existência livre de limites ou a paixão de uma liberdade impossível - que denuncia o “vazio” do mundo.

Dicção coloquial quotidiana

A dicção coloquial quotidiana é bastante óbvia no caso de António Pedro Ribeiro. Nos antípodas do bucolismo e da tradição lírica-discursiva - da escrita “sublime” ou "transcendental" - assiste-se em "Café Paraíso" (Editorial Bairro dos Livros, Culture Print, Porto, 2011) - o seu último livro - de forma directa, imediata, - ao próprio eclodir de um corpo-próprio seminal (onde se exorciza a configuração amorosa e suas projecções fantasmáticas). Uma vez mais esta poemática - cênica - tende ao transbordamento pulsional - na confirmação (ou refutação) emocional das possibilidades excessivas. Mas em que a denúncia da dominação do império conjunto - formado pelo poder técnico e a razão económica pura - é um ponto de partida metodológico.

Infinito da negação

Donde acaba o crítico e começa o panfletário, o extraviado ou simplesmente o instintual? O planfletarismo é em António Pedro Ribeiro inspiração: acesso ao optimismo revolucionário (frente à democracia “estabelecida”, “instalada” ou “mercantilista”). Pode dizer-se, contudo, que a sua poesia - cívico-ética - remete-nos ao “infinito da negação”. Assente num discurso do desejo (de eros) que caracteriza a poesia de Allen Ginsberg ou de William Blake - torna-se demanda de “novatio” - um re-assumir do "desencanto" do mundo. Na primazia da dialéctica da revolta e da desobediência civil - do “différend” - acentua a dominante da “teoria crítica” (Reich-Marcuse), do "visionarismo" de Agostinho da Silva e, sobretudo, da “gaia ciência” de Nietzsche. Na sua poesia - desde o início - o protagonista são as três estruturas do “impossível”: política, amor e arte. “Riso soberano”: eis aqui a novidade de categoria muito significativa. É importante ressaltar ainda o privilégio da escrita automática - que nos autoriza a falar da pulsão pura - e enquanto veículo de uma “auto-biografia” ou trama “psico-biográfico”:

escrevemos sobre nós próprios
estamos sempre
a escrever sobre nós próprios
nada há a fazer
desenvolvemos este estilo
é claro que também
nos referimos aos outros
à televisão omnipresente
às riquezas
ao cacau
mas estamos sempre
a falar de nós próprios
num monólogo sem fim
é isto a vida
é isto a escrita
e é isto que sobra
de um dia de tédio (p. 77-78)

Id dionisíaco

Nesta obra perpassa – como dissemos antes - a vida escrita - os impasses do escrever. O que entendo aqui por exortação à libertação do "id" dioníaco. Não é difícil notar o seu apego à insânia - pathos da loucura - ou o privilégio do êxtasse e da ebriedade. Porque “Cerveja-matéria prima do poema” (p.34). Seria possível falar da afinidade entre o tipo de poética de António Pedro Ribeiro com a geração “beat”: a psicadelia e a contracultura. De facto, desde o início das suas “démarches”, António Pedro Ribeiro procurou ampliar e fortalecer o activismo político enfatizando a dimensão da ebriedade - contra a razão e a administração da vida – unindo-se a Rimbaud e Nietzsche. Mas é Raoul Vaneigem de “Arte de Viver para a Geração Nova” e o mercado pariense de ideias que oferece ao poeta um modelo: o da lição situacionista (de uma existência liberta do gregarismo e da massificação). Para António Pedro Ribeiro a ebriedade tem também a sua forma e a sua figura:


Bebo cervejas no inferno
Mas quero o paraíso
de volta (p.30)

Excesso e transgressão

Em “Café Paraíso” re-equaciona-se a experiência do sensível - a partir justamente dum apego visionário - que revela e permite ser - ou, se quisermos, dum corpo linguagem (de articulação lógica-prosaica). Deste modo um corpo dionísiaco enquanto corpo pulsional - nos seus sintomas e somatizações – transferência e traço significante, excesso e transgressão. Nesta sua escrita concentra-se e exacerba-se, de maneira exemplar, uma poética catártica, em que, por sinal, a corporeidade, o estofo do ser, como diria Merleau Ponty, está prenhe de significado. Aqui o eterno existe no efémero, mas o contingente anseia e clama pelo absoluto:

procuro a eternidade
do instante
não me adaptei à vida burguesa
às conversas do senso comum
à vulgaridade do intelecto (p84)


Trata-se de uma poesia (composta de palavras-chave no sentido estrito) que enaltece a auto-reflexão: é daí que tempos de partir. Em que há também um estranho exercício crítico em torno da sociedade autoritária “unidimensional”. Por fim, o questionamento dum mundo dominado por critérios de eficiência e sucesso e, por conseguinte, assente na “auto-escravização” do humano.

Iconoclastia e irreverência

O conjunto dos poemas de António Pedro Ribeiro exibem, em seu contexto de significação original, um forte pendor ideológico - enquanto propensão crítica do capitalismo avançado e, por conseguinte, da desmontagem das falsas boas intenções burguesas. Ademais depreciativa e fustigadora do poder e dos seus símbolos - neoburocracias, comissários e aparelhos repressores ideológicos - vícios públicos, virtudes privadas. Insistimos: trata-se de uma escrita psico-emocional - como fragmentos de uma auto-biografia. Poderíamos dizer que neste poemário - nos passos do “politically incorrect” - perpassa a questão da hybris, desmedida do ser, da verdade da poesia como embriaguez e transgressão. Outro exemplo notável de uma poética da iconoclastia e da irreverência ou “pour cause” da “reverie” política ( tipo marxista pós-moderno - na exigência da auto-gestão emancipalista).

Café-Bar Olimpo Porto, 21 de Dezembro de 2011

Alexandre Teixeira Mendes

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"SCINTILLA ANIMAE"

“Saltus Sublimis”

Teremos de admitir a hipótese de incluir Alma (Psichê) e Amor (Eros) numa única “mot (palavra) valise”. O mito de Psichê narrado no livro O “Asno de Ouro” de Apuleio (125-170 d.c.) - refere-se justamente a uma bela mortal por quem Eros, o deus do amor, se apaixonou. Chegamos, aqui, à questão de Eros em Psichê e Psichê em Eros - o Jogo e a Criação - o “Saltus Sublimis”. Daí decorre a Escrita do “Caos-Cosmo” - ainda uma vez “Psi”-"Emersa" no “Dictamen Obscuro”. A assinatura do Mundo - Eros - o seu “Semi-Dizer” - “apex mentis” ou - no dizer de Mestre Eckart – “scintilla animae”.

Pulsão sexual

Pode-se, portanto, dizer, que Eros - força da vida - tornou-se uma parte de Psichê. Mas onde vemos, por conseguinte, que o aparelho psíquico integrou, pois, Eros - que - no entender de S. Freud - "mantém unido tudo o que existe no mundo”. É, pois, de considerar - na formulação “standart” da psicologia analítica - a função sexual e o seu expoente - a libido – como base do que conhecemos de Eros. Falamos, conforme se pressume, do traço de união somatopsíquico e, portanto, histórico, em que a dinâmica sexual seria inseparável da temporalidade. Tome-se como exemplo – como nos diz André Green – o vórtice Eros - que “desempenha então a função paradoxal de ser, ao mesmo tempo, uma abstração e aquilo que permite que se represente a pulsão sexual encarnada nas figuras em que, simultaneamente, se revela e se dissimula” (Les Chaînes d`Eros – Actualité du sexuel). Constatamos, pois, que a concepção exposta da libido que está sempre activa deriva de Freud. Mais importante ainda foi a concepção bioenergética da mente. Podemos permitir-nos, neste contexto, falar – segunda a expressão aristotélica - da dynamis, “energia potencial” (de deina, “penetrar em”) e da energeia, “energia em acto” (de ergon, “trabalho”). Trata-se também aqui de assinalar, explícita e implícitamente, o núcleo indivisível da psicanálise: Eros e as pulsões de destruição (Thanathos).

Alta tecnologia, "dominium"

Convém, no entanto, ter presente o papel decisivo aqui desempenhado pelo teoria da unidade físico-psico-espiritual do homem - segundo a concepção aristotélica-tomista - que ganhou na ciência psicoterapêutica moderna novo significado. Assim, pois, no quadro da con(di)vergência de pontos de vista quanto à natureza da alma (psichê) e do amor (eros), a noção já expressa da lógica humana demoníaca tem um carácter costumeiro, tradicional. Comecemos do princípio: lembramos que o diabo é, pois, - segundo C. G. Jung - uma variante do arquétipo da sombra, isto é, do aspecto perigoso do reverso não reconhecido da alma humana (Acerca da Psicologia do Insconciente, Lisboa, 1967, p. 116). Vale a pena, porém, reter que a revolução industrial destruiu progressivamente a ideia de universo sagrado. Ainda aqui a religião tornou-se assunto entre o homem e Deus (de maneira a pôr em evidência o aspecto ético-legal). Mas é igualmente justo assinalar que a ciência tomou o cosmos para si - e neste caso metamorfoseou-se em advento da alta tecnologia ("marca" - segundo Heidegger - do destino ocidental) enquanto ponto culminante da dominação (precisamente a "catástrofe"). Essa racionalidade que se exprime na liquidação de homem e da terra pela grande indústria e potência militar, caracteriza, pois, toda a sociedade moderna baseada na mobilização (traduziu-se, por exemplo, numa sucessão - como assinalou Henri Laborit - de servomecanismos hierarquizados). Exprime-se, como já tivemos ocasião de ver, na expansão (planetização) industrial - surgimento de megalópoles - e na defesa da permanente inovação - a diferenciação - enquanto herança e dogma da modernidade. Partiu-se - notar-se-á - do pressuposto que toda a comunicação deveria ser explícita e pública - na própria sujeição da palavra enquanto persuassão pública - em lugar de ser expressão privada - relação com o “dominium” - a política.

Gnosis

Podemos fixar a nossa atenção, por um momento, no processo descrito como exploração da alma (psichê) que se tornou - explicitamente - no contexto do ensinamento gnóstico - uma demanda espiritual-religiosa. Analisa-se ou concebe-se o nomear adâmico - remetendo ao saber esotérico - o corpo e a voz associada à terra - as palavras não-escritas. Considerando, portanto, a prossecução do "auto-conhecimento" (enquanto chave -directa ou indirecta - da compreensão das verdades universais - da palavra perdida - e que permanece representada pela "intuição"). Mas (seja qual for o nosso caminho) a via solitária e interior da "gnosis" envolve - aparentemente - o reconhecimento das "forças alucinatórias" do conjunto da fé que implica o "divino" - a demonologia das origens , "satã".

Religião da natureza e da salvação

Trata-se, portanto, de analisar aqui o que há de típico no significado da adoração ou o ateísmo da revolta (num tempo em que a religião - à sua maneira - se metamorfoseou progressivamente em "ética"). A todo o instante perguntamo-nos se é equívoco referir o duplo paralelismo entre a religião e o erotismo, inclusive - como tenta mostrar Walter Schubart - o da continuidade entre o eros procriador e o êxtasse criador, e da dialéctica do eros redentor e da religião da salvação . Podemos analisar aqui o que há de tensional - círculo vicioso - na religião da natureza (centrada no parto e na maternidade através da devoção- criação) com a religião da salvação (incorporando a criatura separada do seio materno e, no caso, remetendo-nos à nostalgia da origem).

Lirismo cortês e catarismo

Constamos, pois, que a Provença foi o ponto de partida de um movimento erótico que inspirou a poesia dos trovadores e a espiritualidade franciscana. Nesta vaga erótica, o culto de Maria desempenhou um papel muito importante - porquanto - como indicou Walter Schubart - a ideia matriarcal cede passagem a um culto romanesco da mulher que não se enraíza mais na experiência do êxtasse criador. Antes de explorarmos, porém, as implicações do "trobar clus" - com a poética hispano-arábe ou hispano-judaica, devemos examinar ainda que rapidamente, alguns dos argumentos que foram usados, ou poderiam ser, para justificar a tese cátara. Graças, em grande parte, à obra hermenêutica (desocultadora) de Eugéne Aroux, Sâr Péladan, Sampaio Bruno, Teixeira Rego ou Otto Rahn, essa teorias começaram a ser compreendidas, pela primeira vez, durante a II Guerra Mundial. Seus proponentes não hesitaram em fazer notar que o lirismo cortês foi inspirado pela atmosfera religiosa do catarismo. Dennis de Rougemont em “L`Amour et L` Occident” (1939) referiu-se ao profundo vínculo entre cátaros e trovadores (onde se faz ressaltar a lógica conjunta do erotismo provençal - se se considera o amor galante - as forças e os valores femininos). Subjacente à nova poética trovadoresca - nascida na França do Midi - pátria cátara - assente na celebração da cortesia e no culto do amor (contra o casamento) - os Fiéis de Amor - surge-nos - com efeito - uma nova categorização da mulher inseparável do grande modelo ocidental da linguagem do "amor-paixão". Assim, passou-se progressivamente desse impulso fundamental em torno de "a puela"- a jovem solteira (adolescente) - para "domina" (senhora). O provençalismo que nos é apresentado poderia ser definido como a primeira corrente literária galego-portuguesa - que utilizou - seguindo as pegadas da língua d' oc - todos os recursos técnicos disponíveis. Parece, com efeito, que a cultura trovadoresca - a "gaya sciência" - na consagração de uma escola do livre pensar nas cortes provençais - segundo Luís Espírito Santo - está indissoluvelmente ligada à crença na força libertadora do erotismo. Na (con) celebração da paixão extra-conjugal - adulterina - onde se colocava o assento - não sem consequências - na incompatibilidade entre o amor e o matrimónio - vislumbra-se a doutrina cátara (apoiada principalmente na referência dual ao mundo invisível - divino - e visível - diabólico). Parte-se portanto do Amor (Roma às avessas), anti-Roma. Algum significado pode também ser atribuído à ligação de D. Diniz - rei e poeta frequentemente obsidiado por imagens eróticas - aos templários: o culto do "Evangelho Eterno" e do Espírito Santo.

Psicodélia

A experiência psicodélica - habitualmente caracterizada pela percepção de aspectos da mente anteriormente desconhecidos, inusitados ou pela exuberância criativa livre de obstáculos - exerceu papel saliente no quadro das tradições arcaicas. Parece haver indícios veementes de que a êxtasse e a ebriedade tinham suas formas e suas figuras. É aqui que entra em jogo a via amorosa ou erótica, a via dos mistérios, a via profética e a via poética (já em grande parte focalizados por Platão). A verdade enquanto visão ou escuta, por si só, bastaria para aludir ao “voo da alma”. Provavelmente o exemplo mais claro - tradicionalmente minimizado - se encontra nos Mistérios de Elêusis (que se baseavam em ritos religiosos dedicados à Deméter e sua filha Perséfone). Imperadores, artistas, filósofos, poetas - conquanto todo o tipo de gente - passaram pelo seu "telesterion" (grande salão construído para rituais de iniciação). Para a compreensão da natureza real dessas cerimónias torna-se necessário considerar certas doutrinas, que sob a forma de mito, o teatro sagrado e a poesia, integravam um viático específico de modificação da consciência (na prioridade dada às substâncias visionárias). Poder-se-ia aludir à renovação da vida, a integração da vida e da morte no próprio projecto divino, a abertura ao espírito e a finitude.

"Ubíquo vento", ruach

O papel primordial, na mística judaica, da vida sensível - a criação (poiesis) comum à divindade e ao homem - o fulcro simultâneo do humano com o mais-do-que-humano - revela-se claramente ainda maior, se se considera a importância da hipóstase feminil de Deus (schekkiná). Poderemos distinguir de modo preliminar, no modelo cabalístico, a criação, revelação e providência, ou - como propõe Moshe Idel - os vasos que medeiam a presença do divino nos domínios do extradivino. No "Zohar - O Livro do Esplendor" - chama-se a atenção - com toda a evidência - para o facto de a união entre os humanos e Deus ser melhor efectuada por meio da "respiração". Aceita-se, pois, que "o sopro de Deus" impregna toda a natureza. Pode-se mesmo dizer que é o "ubíquo vento" ou o "espírito" - "ruach" - que dá vida ao mundo sensível. De notar que a cabala - como anota Maurice Ruben Hayoun - pretende ser simultâneamente uma física (poética) e uma metafísica: esta visão do universo concebe seres vivos como membros do cosmos.

Yin/Yan - Animus/Anima

A doutrina clássica chinesa parte do reconhecimento - e isto é notável - tendo em conta as chamadas neuro-ciências actualmente em voga - de que somos máquinas eléctricas e vivemos num vasto campo eléctrico e electromagnético. Podemos hoje acrescentar a nossa estrutura genética, nomeadamente a neural, que determina o essencial do que somos. A questão que propomos considerar aponta todavia para um ponto essencial - donde parte a acupunctura chinesa - é a de que há, pois, necessariamente correspondência exacta entre os ritmos biológicos e os ritmos cósmicos - principalmente, os do sol e os da lua. A própria ordem do mundo - tao - assenta - nesta casuística - no equilíbrio entre o elemento frio, sombrio e feminino - o yin - corrente ascendente - e o elemento quente, solar e masculino - o yang - corrente descendente. Chegando aqui, pode-se, na verdade, afirmar que animus e anima - como assinalou C.G. Jung - correspondem ao arquétipo masculino e feminino (sendo que S. Freud invocará, por sua vez, o "pólo paterno" e o "pólo materno", onde se associam os complexos de Édipo e de Electra). De facto é hoje lugar comum falar-se do "hemisfério esquerdo" do cérebro (pensamento conceptual, verbal, sequencial, temporal, digital, algorítmico, lógico, racional, metódico, sistemático) e do "hemisfério direito" (pensamento estético, não verbal, simultâneo, espacial, analógico, heurístico, sintético, intuitivo, emotivo, improvisado, variável). Poderemos distinguir - em última análise - as dicotonomias razão-emoção, analítico-sintético, ciência-arte, mente-coração, vontade-sensibilidade, sol-lua, logos-pneuma.

"Augoeides"

É a Herman von Helmholtz – médico e físico alemão - que remonta a tese de que as únicas forças agindo nos organismos eram de natureza física-química, e que o homem não era de facto mais do que uma máquina. Para nos convencermos como semelhante concepcção é falsa, basta atentar para a chamada teoria electrodinâmica da vida avançada por Harold Saxton Burr e F.S.C. Northrop em 1935. Importa, porém, estabelecer, a este respeito, a sua correspondência exacta - similaridade - com os antigos textos relativos ao corpo vital ou etéreo e à aura humana. Somos conduzidos, assim, à noção de corpo bioplásmico ou corpo vital descrito pelos Vedas da Índia antiga, e o corpo sideral que figura nos escritos de Paracelso. Outro critério pode servir-nos para caracterizar a aura de luz - “augoeides” - conforme a expressão de Porfírio - assim, por exemplo, o “daimon” para os gregos e o “atman” para os hindus - ou ainda, nas suas variações e gradações, a teoria vitalista moderna. Os próprios conceitos da nova física - nomeadamente a mecânica quântica - revelam-nos então novos dados que parecem ter correlação directa com os ensinamentos dos místicos quanto à natureza da vida e do universo.

Animal Humano

Em “The Murder of Christ” (1953) Wilhelm Reich referiu-se aos múltiplos impactes da “peste emocional” - na época actual - que é formada e mantida sobre o medo das sensações orgânicas. Parte do problema torna-se, assim, o da estrutura mecanizada e couraçada do homem em íntima ligação com a tragédia do “animal humano”. O corpo é comprimido - incapaz, desde o início, de superar os bloqueios da energia vital - primeira e universal - divina - a energia orgone. É , todavia, a estrutura do aparelho psíquico blindado, que origina a inabilidade para governar a sua vida. Deste modo se torna fulcral desenvolver, uma vez mais, a autodeterminação humana (partindo da complementaridade entre a vida bioenergética e a vida social). Referimo-nos já à necessidade de uma verdadeira "metanoia" ou conversão. Pois, como já ressaltamos, o mal é uma criação do homem. Neste assunto trata-se especialmente de desvendar (ex (im) plícita mente) o mal-estar do "individuum". É precisamente a observação, sob diversos pontos de vista, da irrupção da insanidade em massa - do medo (de si próprio) na idade da propaganda - que conduz à escravidão. E, contudo, ainda se nos revela algo mais: uma psicologia de massa do fascismo que (re)produz os zé-ninguém - os paroxismos do ódio incompreensível - a violência e o terror - e principalmente o ódio ao Vivo.

Absolutização do signo

Poder-se-ia aceitar primeiro e em maior grau a noção revelatória da poesia. Pela sua natureza é ao mesmo tempo absolutização do signo e o esplendor do significado. Bastará falar dela aqui enquanto totalização da predicação. Será útil que nos detenhamos num ponto: a vida escrita (para invocar os impasses da letra e, por assim dizer, as projecções do insconsciente). Ou de outro modo: a poesia como particular reflexão da linguagem sobre si mesma (enquanto contra-discurso, an- arquía, sacralidade, opacidade ?).

Epifania da visibilidade

Sublinhe-se que quando falámos da tessitura simbólica do mundo nos referimos, em princípio, à sua pluralidade fenoménica. Torna-se necessário ligar o pensamento nocional (ou "noético") - a ratio - da sua nascente viva que é o pensamento real (ou pneumático) - o "intellectus". Dir-se-á, por conseguinte, que toda a manifestação - todo o sistema na sua complexidade - comporta - sabemo-lo - um triplo aspecto: macrofísico, biológico e quântico (microfísico e psíquico). Levanta-se então o problema da univocidade lógica que não se põe ao poeta: já o dissemos. Vamos, por um momento, admitir que a sua voz torna-se oblíqua, isto é, assumpção "ex-cêntrica". "O seu modo - retomando a tese de Geofrey Hartman - é o infinito. Cada estrofe sugere uma etapa que nunca se atinge - a da epifania da visibilidade".

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SYMMETRIA DO IMERSO - VIGIAS DO ABISMO -

- O OLHO SUBLUNAR -

sob o rebordo - do telescópio - o ecrã indefinido - amálgama de luz - estrita - symmetria - do imerso - céu renhido da astronomia - o olho sublunar - reflexo nas lentes - entre estrelas - a inarticulada voz - do opaco - vigias do abismo -

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

MORTE QUE PUDESSE - ESQUECER -

como a lâmpada - do exasperado - morte que pudesse - esquecer - para obviar a dor - irremediável do incerto - a memória do fulgor ? -

sábado, 26 de novembro de 2011

O PALCO - A FALA - SIGNO - ESPÓLIO DA CEGUEIRA -

- VÓRTICE - DO DESNECESSÁRIO -

através da obscura minúcia - o palco - que resplandece - impetuoso - brilho dos projectores -vórtice - do desnecessário -

boca de cena - vicissitude do actor que irrompe - in - voluntário - na iminência do crime - fundura e vazio - da arte -

- LUCIDEZ - DOS PLANOS SUCESSIVOS -

atrás dos holofotes - o estertor da luz - os andaimes - lucidez - dos planos sucessivos - a inabarcável língua - do anónimo -

- PROFUSSÃO DO INVULNERÁVEL

sobre o bosque - olvidado - a fala - signo - espólio - da cegueira - incongruência - do inerme - destruição - voz - anúncio -

êxtasse do corpo - profussão do invulnerável - o incógnito animal - fugaz - que ilumina - o verbo incessante -

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O CORPO INALTERÁVEL - FULGURATIO -

- OS SARGAÇOS E OS BRÔNQUIOS -

ante o rigor dos mapas - obtusos - o corpo inalterável - fulguratio - surto do mercúrio e da febre -


solene e clandestina - penumbra - do excesso - inflexível lâmina - tácita maturação da luz -



ilhas da insânia - sargaços e brônquios - mar de cinza e lava astral - pedra do in - cógnito -

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

FEÉRICA BIOGRAFIA - BENZODIAPEZINA -

o que se esvai - dúplice - no tumulto - signo do inabitável - feérica biografia - benzodiazepina - como outrora - inapropriada mente - do incólume -


para lá do cerrado álbum - do esquivo - o inevidente - psycho - pharmakon - tácito - monólogo - vórtice - dos sais de lítio -


como discorrer sobre o intermitente - alarde tóxico - umbral - caixa-craniana - nômade - que ignoro - imperativo - circunspecto ? -


nesses mapas do anônimo - intus legere - a nuca - aluvião - bêsta-fera - do inominado - o indómito - barbitúrico - do austero -


vícios brancos - crânio - ao revés - imagens do volátil - distensio animi - serotonina - desconcerto - vôo inverossímil -

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

OS CORVOS - INADVERTIDA VOZ - DO VATICINIUM -

por sobre as nuvens do exasperado - os mapas da mente - irremediável - os fósseis de lava - sal do inominado -


ver-me junto dos recifes - sob a espuma do inábil - algas - caranguejos - lâmina de esperar-te - meu horóscopo alucinado -


as fotos dos icebergs - perspicácia do branco - mar revolto - corvos - inadvertida voz - do vaticinium -


o sótão - dos arrumos - baús - estantes - pó - inatingível - luz - imperativa - que se dissipa - na pedra humedecida -

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O APAZIGUAR DA CEGUEIRA -

- DA LUZ - IMPONDERÁVEL -

sobre os mapas - do indescritível - o inapercebido gesto - da pintura - o apaziguar da cegueira - inapreensível - receptáculo - da luz - imponderável -


entre a bôca - as nuvens - garças - vôo indelével - a limpidez - do azul - do céu - o mar e o cais de pedra - caixilhos e telas - pela areia iluminada -


nessa cegueira dos astrolábios - as baleias em delírio - a voragem do incerto - ilha - luz primeira - sortilégio - das barbatanas - devolutas - a pedra do imerso -

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CÉU E SARGAÇO - MAPAS-MUNDÍ -

HOLOFOTE SUBMERGIDO -

Sobre o holofote submergido - os livros - de max jacob - a inadvertida voz - do extemporâneo - o que soçobra - na palavra do audível - quando escrevo - céu e sargaço - mapas-mundí - nuvens -

PEDRA DO EXÍMUO

Pelas estantes - os manuscritos - que retive - nesse haikai - incomparável - a voz de dafne - o inaudito - luz húmida - dos canaviais - a pedra - do exímuo -

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

OS PASSOS - NO MAR - DO ESCASSO -

A LAVA E A ILHA FUGAZ -

Entre a constância dos mapas - a lava e a ilha fugaz - as nuvens do interminável -

A torre - repercutida voz - saliva - inominada - os passos - no mar - do escasso -

ALVÉOLOS

Sob a imagem - invertebrada - os alvéolos - o granito loquaz - signo indecifrado -

terça-feira, 25 de outubro de 2011

FARSA - A SÚPLICA - DO INTRADUZÍVEL -

fiel ao sonânbulo escarcéu da turba na calçada - inegualada - assistes impassível à farsa - dos mass media - crueldade ou indiferença - corriqueiros cenáculos - de títeres e de bufos - maîtres - de má memória -

quero apressar o epílogo - expiar - a crueza e o nada - da mente - esquiva - assinalar - a pródiga blasfêmia - caminhar às cegas - e esquecer - o que se desmorona - a evasão e o erro - a torpe - palavra gasta -

relegados ao ghetto - cedemos à tentação da palavra ineficaz - ubíqua - o olvido - a implacável fraude repetida - sonegando - a política rasteira - falta de decência - urdidura - dos truques - bancários - o puro nullius - que nunca cessa ? -

por detrás dos cortejos do desalento - da mentira - os acordos tácitos grassam - o cinismo e a mesquinhez - como fugir à vassalagem - a dissimulação do poder - a conivência dos séculos com a farsa ? -

resta-nos a carência - o desatino - num turbilhão - alucinado - a bandeira rubra - inexorável - doutras certezas - o zelo - acrata - a súplica - do intraduzível ?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

exemplum exorbitante

O novo livro de de Xosé Mª Vila Ribadomar “Fotogramática” (Incomunidade, Galiza, 2011) reveste par excellence um indiscutível pendor “intensivo”. Uma entonteante densidade, pelas figuras de estilo, ou tropos, mas sobretudo pela pregnância de uma lógica panorâmica - inusitada - anómala - (in)definível. O impacto desta poesia parece estar na sua marca híbrida, mescla peculiar de transgressão - como um regime compulsivo - de rigorismo - mestria - irremediável. Na sua re-configuração - intentio - deriva apocalíptica - agudeza y arte del ingenio - maneirismo - podemos inferir, pelo menos, a presença de uma escrita densa que (re)captura, grosso modo, a língua - em sua vizinhança imediata com o paradoxo e o absurdo - que, como diz J-C Milner, é o impossível.

Semi-dizer

Xosé Mª Vila Ribadomar retoma, de forma esparsa, a arte e a literatura universal (em chave cripto-gráfica). Na interpelação da língua-discurso - um universo complexo ao mesmo tempo cêntrico, acêntrico e policêntrico - a sua escrita manifesta uma obscuridade aparente. Vale dizer: um “semi-dizer”. No recurso a uma espécie de tessitura interminável de referências entrelaçadas - cultura e environment - constituiu-se como exemplum de uma escrita exorbitante que é, assim, excursus. Vamos insistir em dois aspectos: 1) a de uma arte das combinações verbais e 2) da (a)gramaticidade que - segundo M. Riffatere - não se refere a uma falta gramatical (tal como sugeria uma interpretação desde a gramática generativa), mas a que o texto forma a sua própria gramática em sentido amplo.

explícita melancolia

Teremos, portanto, de nos limitar a considerar, no poema - des-velamento/re-velação - , as redes de equivalências, onde entram em relação elementos fónicos, gramaticais e semânticos? Sabendo ao mesmo tempo que a organização poemática é elaborada longe do modelo da linguagem comum? Podemos verificar que na demarcação da prosódia pré-estabelecida - da academia com o seu bureau e o seu management literários - aqui se mesclam, em bloco, um implacável registro textual (que se delineia num claro-escuro sintomático) e, por sinal, (um)a explícita melancolia.

sobrecodificação, gnosia

Convém fazer referência - em sentido lato e algo impróprio - a um conjunto de textos (como uma valência eclética, codificação múltipla ou até sobre-codificação) que nos remetem a uma épica da catástrofe - gnosia - um tipo de discurso assente na exasperação, pressentimento e catástrofe - e, portanto, uma escrita especular. Parece-nos difícil, senão impossível, definir esta poética que avança por caminhos pouco trilhados: poesia insana à primeira vista - das sintomatologias neurótico-depressivas - compressiva ou dissociadora - fílmico-pictórica - veículo da cura, pharmakhon.

Visionário, foto (ceno)gráfico

Como compreender esta poética negativa - onde se revela o sentido fora do sentido - que pode ser definida como desviante - assente numa incessante experimentação - (des)possessão? O que salta à vista é, acima de tudo, o seu lirismo - o fluxo de um idioma sumptuoso - selectivo - (in)abarcável - que nos aproxima da escuta poética da natureza. É justamente uma escrita ancorada numa paleta fisiológica - orgânica - um imaginário em discurso - visionário - dos fotogramas - (ceno)gráfico - no vínculo a uma “textura” perceptiva de pendor sexual-cósmico, irredutível: “abo côa miña língua umbilical un regueiro de pólvora húmida ata tua vulva ómega” (p. 7).


(tran)sensorial e epidémica

Por agora, limitemo-nos ao mais básico: a de uma escrita obscurecida por inegáveis sombras, mas também, iluminada por luzes do alogon , que é impossível ocultar atrás do alter, do alienus, do allos, do outro absoluto e do insensato. Ela se produz como clausura da representação - ante a evidência de que tudo que nela se encena pertence igualmente à contingente ordem do fantasma. Poderia dizer-se que esta poesia - da acedia - auto-atravessia do corpo - surge dominada por uma espécie de (des)encantamento. Será que podemos aqui discernir uma tentativa de apreensão das opacidades inextrincáveis? Na re-invenção do carpe diem? A retoma do intertexto cultural?

Niilismo, hybris trágica

Então em que consiste essa poética articulada à reivindicação do niilismo, a hybris trágica? A sua chave continua sendo a sugestão, a ambiguidade, a polissemia ou a obscuridade do verbo. Bastar-nos-á aqui referir um tipo de escrita erudita - (tran)sensorial e epidémica - da intensidade patogénica e do descontinuum - um palimpsesto algo delirante e de auto-implicação. Mas onde se visualiza um erotismo transferencial e incontido - que engloba, por definição, o corpo libidinal, psíquico e de regressão, a cartografia do vazio, o desejo inominável?

pathos maneirista

Inútil insistir: a leitura deste livro nos mostra que a sua poesia dá voz (e a voz) ao incomunicável. Podemos entender a dificuldade desta escrita no contexto de uma poética por onde perpassa (em si mesma) uma tensão expressiva e simbólica. No caso em foco, um pathos maneirista - do desamparo - apocalíptico - uma poética hermética, onde prevalece um dispositivo pulsional, no afloramento da voz e da escuta. Este poemário, da qual parte toda a nossa reflexão, remete-nos, pois, - ainda quando falámos esquematicamente de uma obra assente num vocabulário de eleição – não-canônico - imprevisível e decisivo - para toda uma gama de tópicos: uma filosofia-mundo. Assim, temos a distinguir, portanto, a ênfase numa economia do desejo e, em consequência, os impasses do gozo e as feridas do simbólico.

Fracasso, malogro

Esta poesia, na sua opacidade alquimica, maniera, parece configurar o sentimento agónico do fracasso - do malogro. Mas será que se pode dizer, seriamente, que - neste pano de fundo de conformidade com a nossa inabilidade de descrever o mundo - a poesia aparece-nos como diminuída e limitada? Ou, ao contrário, será que se tem de reconhecer que através da poesia apreendemos um mundo, um habitat específico com uma voz, por si só, identificável, na sua máxima operância emancipadora? Trans(e)gressora? Situados num limiar depressivo, em um mundo de bloqueios e de discriminações, de impotência política e de apatia social, de vazio administrativo e de usura planificada - o incontornável vínculo às disposições ou devaneios, que abarcam as alegorias da radical ilegibilidade - , todo o problema está em saber do que falamos nós quando nos referimos à forma meditativa do poema - onde, no entanto, se forjam as imagens do malogro pós-industrial - as grandes recusas? Podemos bem dizer que o destino dos homens – do poeta - tornou-se político. Até porque o poder polariza-se - como assinalou Ivan Ilich - a insatisfação generaliza-se (A Convivencialidade, Lisboa, 1976, p. 90).

21 de Outubro de 2011

Alexandre Teixeira Mendes

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A SERPE - NUVENS CERRADAS -

- CÓDICES - NO FUNDO DAS ÁGUAS -

sob a luz inigualável - a argúcia da pedra - no ar - simetria do imponderável -

a serpe - entre as colunas sobrepostas - nuvens cerradas - mapas do anónimo -

baús - telas emolduradas - demónios e peixes - códices - no fundo das águas -

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

SAL RESSEQUIDO - DO IMPONDERÁVEL -

SACIEDADE DA LUZ – MAPAS -

por esse sal ressequido - as aves - sobre a nuvem –

do imponderável - a desmesura dos sinais - na noite -

peixes - saciedade da luz - mapas - material do olvido -


VOZ DO PREMENTE – SOL-PÔR

ilha - enseada - donde regresso - mar - inusitado -

voz do premente - recôndita cegueira - sol-pôr -

brisa do solícito - pedra que resvala - no explícito

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

TRÂMITE DA PEDRA - BALEIA SUBMERGIDA -

TÉNUE ROSÁCEA – ALIMÁRIA -

Sob o esparso - a pertinência das imagens do ilícito - trâmite da pedra -

Pórtico do conciso - velame - ténue rosácea - alimária - cifra desvelada -


INAUDÍVEL CAIS – SARGAÇO – INAPROPRIADO -

Luz - dúbia - tufão - serpe - ninfa - espuma do espesso - baleia submergida -

Inaudível cais - prenhe de sargaço - marulho - inapropriado - ímpeto do sal -

GÁRGULAS - MAR FICTÍCIO - RIBEIRA DO MAR

RETÁBULO - BÁTEGA - LÂMINA DE SAL

Entre as gárgulas - do eloquente - as aves - torres - naves - do íngreme -

Névoa e espuma - moliço - talha dourada - mar fictício - ribeira do mar -

Bátega - lâmina de sal - retábulo-altar - pedra e céu - do irresoluto - areal -

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MAPAS - ACERBO DA MEMÓRIA - INTRANSPONÍVEL -

interceptar os mapas - da vicissitude - ver-me reflectido - no que desaba - a voz - altiva - da infância - ímpeto do que soçobra - na luxúria - a talha dourada -

em brest - por detraz - da voz - de querelle - os daguerreotipos - a gaze - os vaga-lumes - a chuva espessa - na noite - o quarto de dormir - o carroucel - viagem - que se dilui - na música - do funesto -

profusão da escrita - para esquecer - as fotos - do mar suspenso - os vidros foscos - exalando sangue - a pedra - do incólume -

lages - sal - gema - brilho da campânula - trapézio - que se insinua - no ar - desenhos - de balaustres - sonolência das cisternas - águas - nos silvados - balas - do insano - à queima-roupa -

sobre a relva - as âmpolas - os sacos de dinamite - salamandras - papiros que mantenho - gárgulas - algas - nuvens do insaciado - as vértebras de baleia - acerbo da memória - intransponível ? -

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ANIMAL INDUBITÁVEL - MERCÚRIO - PLÂNCTON INACESSÍVEL -

pelo écran - o microscópio - imagem - desfocada - mente - insolúvel -

palavra - excurso - som - minúcia da voz - interruptor - soalho - luz -

o eclodir dos mapas - que se repercute na retina - recôndita sageza-

animal indubitável - enxofre - sal - mercúrio - plâncton inacessível -

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ISTMO - MINUCIOSO OFÍCIO -

TORPOR - DO HOMONCULUS - PERGAMINHOS - VEREDAS -

nesse intento - da escuridade - o caixilho - o desenho - tela - desvario -

scientia - do fecundo - vórtice - sobriedade do clarão - dom - exórdio -



indefectível - fausto - profussa sapientia - do vácuo - títeres - rosácea -

inacessível - torpor - do homonculus - transe alado - esgar - da cegueira -


frémito da pintura - que subsiste - irreparável - istmo - minucioso ofício -

da noite - intangível - cor - do intacto - a inadvertida - pedra - do incólume -


entre as éclogas - da loucura - os lábios e os mapas - do submerso -

canto - altas torres - sinais - baús - estuque - fragas - ímpeto da luz -


achamentos - vitrines - brumas - papoulas - entre lâmpadas - de lava -

o livro - engano ou fingimento - precipício - desconcerto - mor espanto -


domicílio de circe - similitude do branco - desvario - apaziguado veneno -

ilha - cais - nau - furtiva medusa - sôbolos rios - cor baça - do abrupto -


retina - filme - onde diviso - a intempérie - do deserto - o corpo - inscrito -

casa vazia - traço do funesto - alto mar que resvala - na voz - alucinada -


sobre o campo raso - os bois - tropos do ínfimo - cabras - vermes - deserções -

imagens - do inerte - zapping - pergaminhos - veredas - mapas - escarlates -


a memória - do extemporâneo - in - condicionalidade - do mar - quantum -

monólogo inverossímel - centauros - crustáceos - moluscos - do indecifrável -

terça-feira, 20 de setembro de 2011

LUZ - INTERMITENTE - NUVEM - DECISIVA -

VOZ – DO TÁCITO –

ante o recôndito - a luz - intermitente - nuvem - decisiva - lâmina - da insónia - alívio da mente - breu - umbral - do cio - voz - do tácito -


por entre as chamas - que me assolam - o fósforo - impassível - a neve esplêndida - aura - indizível - alarde - da escrita - insustentável -


cápsulas - barbitúricos - túlipas - sobre os brônquios do tigre - o sono - inflexível - fotos em negativo - da pedra - ocre - as rãs - do anónimo -

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

OS MAPAS - LÂMINA - DO AR -

- A REFLECTIDA - LÂMPADA - SÚPLICA - DO INTRADUZÍVEL -

1.

Pelo pequeno quarto - os mapas - intermináveis - molduras - do austero -

Lâmina - do ar - inexprimível - miragem do discreto - animal - insubstituível -

A voz do circunspecto - ímpeto - do corpo - inábil - onde se revela - a dor baça -

Esquiva perspicácia - da insónia - pólvora - das pedreiras - bosque inflexível -

2.

Noite - intolerável - voz - pupila - húmida - luz - inconsistente - sono indelével -

Espelho hermético - das balas perdidas - vórtice - crime - dolente - do desacordo -

Delírios do amplo - pelo vácuo - da pedra - ténue - transe - sumptuoso - desenho -

Inexplicada - indulgência - do branco - reflectida lâmpada - súplica do intraduzível -

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

AVIDEZ - DA CIÊNCIA - HIATO - SONO - INSENSATO -

desde o começo - a avidez - da ciência - hiato - sono - insensato - os globos e os mapas -

sob os lábios - a exaurida - cegueira - do discreto - nuvens - do inflexível - o láudano - do escasso - quando parto - o revólver - bala - de prata - implacável - a nudez - naquele quarto -

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ÉCRAN - DO ILESO - SAL - DO IGNOTO -

- O MAR - IMPETUOSO -

perpetuar os mapas - em delírio - sob a luz - sonolenta - do irresoluto - a imagem - que incandesce - no écran - do ileso - nuvem - decisiva - pela pólvora - do desnecessário -

retomar o perceptível - no fundo do gravador - a língua do inexplicado - nave secreta - abóbadas - torre irrevogável - pão - ázimo - sal do ignoto -


submeter-me ao inverossímil - esses hiatos - da mente - imprevisível - o grito - da água - alucinada - pólvora - do ar - pela lâmpada do exacto -

inércia - do deserto - lava - de prata - submergida - pelas mãos do reverso - película - intermitente - musa inclusa - para relembrar o mar - impetuoso - a avidez da erva e o ovo - in - subsistente -

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NA VOZ - DO FUGACE -

- SIGLA E CIFRA - VELAME -


na voz - do fugace - sigla e cifra - convulsivo - velame -

reiniciada - lâmpada - hospício - cegueira - do branco -

a incisa - escrita - lábios - âmago - da luz - indefinida -

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A LUZ DO IMPONDERÁVEL -

O MERCÚRIO E A FEBRE -

sob a palavra - irreversível - que se rompe - no ar - o aceno do inflexível -

a luz do imponderável - o mercúrio e a febre - pálpebras - do inominado -

escrita - coágulo de sangue - que se dissipa - no aéreo - impassível - voz -

grito - do unânime - que se repercute - na indelével - lâmina do peremptório -

terça-feira, 6 de setembro de 2011

VEROSÍMIL - NUVEM DE PEDRA -

- INSISTENTE - INDUBITÁVEL -

quem se abstém do verosímil - retoma o obstinado - pelo sal - do exacto -

na cratera de luz - a nuvem de pedra - nomeia - o que subsiste - do audível -

a impassível ilha - rente - ao que assoma - na retina - insistente - indubitável ? -

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

IRREMEDIÁVEL - AUTÓMATO -

ESPECTRO - VOLÁTIL - NAS ELOCUBRAÇÕES - DO INCERTO -

Deste mar - infindo circunlóquio - sou um náufrago - irremediável - autómato - que perpetua - a inalcançável - voz - dos mapas -

No zénite da praia - só me resta - a espuma do inabitado - o ecoar da pedra - inabalável - discernimento - da luz -

Devo esquecer o espectro - volátil - que se acerca - deste corpo - sub - emerso - fundo do lodo - nas elocubrações - do incerto -

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

(INEPTA) ARTE DA KABBALAH

- MUROS E TIPOGRAFIAS DE FERRARA

Entre lâmpadas e nuvens - os últimos vestígios da escrita que se dissipa -


Apólogo - do duende - vórtice da voz - nauseada - interminável - persuasiva ? -


Sobre o pavimento - de rastos - a cabeça curvada - desistência inelutável -

O pavio de cêra - abóbada desnuda - traves húmidas - do cárcere - irrevogável ? -

Alusão à jornada adversa - e ao povo renegado - (inepta) arte da kabbalah -

Muros e tipografias de ferrara - vida dupla - esse rasto da memória do olvido ? -








terça-feira, 30 de agosto de 2011

LUZ - CEGUEIRA DO ESCASSO -



- TRÂMITE - DO DESERTO -

sobre a humidade - dos brônquios - a lâmina do irresistível -

o sono - maturação do excesso - luz - cegueira do escasso -

voz que se desvanece - na intempérie - trâmite - do deserto -




FRÉMITO DO RECÔNDITO OBSCURO - INTERMITENTE - LUCIDEZ - DOS MAPAS

1.

Quem emerso - nas águas do insano - indaga - o desvelo - da luz -

Na pedra - ténue brilho do que dissipa - sombra - imponderável ? -

2.

Junto à enseada - a vasta e cega reminiscência do mar - indefinível -

Intermitente lucidez - dos mapas - a diminuta ilha - do inapropriado -

3.

Por entre as lajes - as arcas - cartas do deserto - o revólver mauser -

Frémito do recôndito obscuro - traças - puídas vestes - nuvens e cães -



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

INABITADO

sob o jugo - da amnésia - irreconhecível - que voz - se escoa - no aéreo - palavra sucessiva - me transporta ao inabitado - pelo incêndio - persuade ? -






DESÍGNIOS SÓRDIDOS

- TURBULENTO INÍQUO

Desígnios sórdidos nos aterram - baça fanfarronice - do poder - atroz -

Ociosidade régia - que nos alarma - entrevista encenação da mentira -

Furtar-me à tirania que se insinua - e nos exorta - às latrinas da razão -

Zelo bancário - para absolver - altivez que soçobra - prenúncio da hipocrisia -

Opresso servilismo - do autómato letal - débil natura - turbulento iníquo -

Mísero escarcéu - áureas garras do que molesta - ignoto tempo - alento da ira -

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MATERIAL DO OLVIDO


Écloga do inacessível - temerosa ruína - voz ofuscante -

Pura escuta - estrito signo - mapas - material do olvido -

Validez - da cegueira - no que perscrutas - o inaudito ? -

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CATULLUS - LUZ - DIFRACTADA - DO INÁBIL -

1.


ante a lógica - do circunspecto - a mente - dúbia - submergida -

súbito o fotograma - da cabeça fracturada - a maré do olvido -

perder-me nas águas - morfina ou nada - a inebriada espuma -

2.

refutação das musas - cada passo - transigir com o que obscurece -

conjectura do poema - ténue escrita de lésbia - frémito do esparso -

lâmina - entre as nuvens - do recôndito - o corpo do desnecessário -

3.

epitalâmios - de catullus - brônquios - na luz difractada do inábil -

táctil dissipação das figuras - noutros mapas - lo hymen hymenea -

as imagens do subterfúgio - em meio da noite - a voz do mensurável -

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ÓRBITRA DO INSONE

Permaneces no mar improvável - pelo animal - irrefutável -

Entre os mapas do avesso - in-fólios - voz do incomensurável -

Indagando o que se dissipa - na cegueira - a órbitra do insone -


ILHA DO EMERSO - BALEIA - IRRECUPERÁVEL -


Resta-me essa ilha - do emerso - a lava e o solícito mar do abrupto -

O inverossímil - peixe pedra - sono denso - da baleia - irrecuperável -

terça-feira, 16 de agosto de 2011

FOTOS - DE EMILY DICKINSON - ARCAS - MAR DO IMPETUOSO - ÓLEO GRAVURAS - QUE PROCURO -

AMPOLAS DE MORFINA - FILME RECOMEÇADO - DA INSÓNIA -

1.

Dentro das arcas - o mar do impetuoso - óleo gravuras - que procuro -


Traços do insano - nas fotos de emily dickinson - incumbência do perecível -

2.

As películas - retratos imaturos - mãos atadas - nos confins - do inominado -


Lentes - lâmpadas - folhas sêcas sobre a cabeça entreaberta - infinito encenado -

3.

Esquecer o que se percute - na retina - seus desenhos - refractários astros -


Esse enlevo dos brônquios - mapas esquecidos - do aéreo - a voz do incisivo -

4.

Sobre o frémito da pedra - alucinada - a erva que entre as nuvens resplandece -


Os barbitúricos do esparso - sal-gema - larva que se esvai - hermético contrito ? -

5.

Entre as ampolas de morfina e as bobines de dreyer - o filme recomeçado da insónia -


A vicissitude das imagens - que se esboroam - noite húmida - deserto do instável -

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

GIORDANO BRUNO - CAMPO DI FIORI -

1.

junto do céu largo em campo di fiori - a sua face vencida já não vejo -

corpo convulso - desatando-se - da chama - último gesto - rememoro -

2.

como resgatar o funesto - a luz - do pátio ininterrupto - revoada de aves -

sob o cadafalso - indiscritível - jovem manhã - do inerte - que o céu cala ? -

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CEMITÉRIO MARINHO - VÁCUO DA VAGA - VENTANIA - MAPA -

- ESCAMA DO INFLEXÍVEL

Cemitério marinho - envolto na bruma -sobre o sal do exasperado -

Recôndita lâmpada - do ar - brisa - vácuo da vaga - granada obscura -

Falésia - ventania - mapa - enlêvo de morrer - escama do inflexível -

Pedra demente - do olvido - desastre que sustém - tua vaga literatura -







sexta-feira, 29 de julho de 2011

VOZ MALOGRADA - DO DEFINITIVO -

- SAGESSE IMPRATICÁVEL

Tempo de decifrar - o que me transporta - ao antagónico - o aéreo -

Voz - malograda - do definitivo - música - de bach - beira - nuvem -

Vazio - maturação da palavra - luz inalterável - lâmina do contínuo -

Obscura - pretensão metafórica do irrealizável - sagesse - impraticável -

Moradas da insânia - onde te transmutas - vasta expectação - dos mapas -

quinta-feira, 28 de julho de 2011

JARRY QUE RESSURGE - TÉNUE MAR DE COBALTO - EM MONTMARTE -

INANIÇÃO - DO ESPLENDOR - MERDRE -

Sob os mapas - na parede - as águas - a predilecção do branco -

Deter-me no ilícito - da vidraça - o postal ilustrado de marraquexe -

Saber que embarco - e perpetuo - os himens - a insónia do corpo -

Oaristo - inapreensível - voz que se aparta - na luz - pedra - factível? -

A lucidez antes de cair por terra - os papéis líricos - vagar no deserto -

Presságio - furtiva intempérie - inanição - do esplendor - merdre -

Jarry que ressurge - cúmplice - ténue mar de cobalto - em montmarte -

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FOTOGRAMA - DO IRREVERSÍVEL -

- A INEGÁVEL - ASSERÇÃO -

1.

Sob o signo do parco - a inexcedida - deriva - das imagens -

Pão - sol ferido - do insano - a evolar-se - cal - do deserto -

2.

Busquei os mapas - do opaco - a lucidez - inegável - asserção -

O que resplandece na prata - aclarado - fotograma do irreversível -

3.

Confinado ao eterno pretexto - da contradição - a tela - do ar -

Persisti - na ânsia da extrapolação - canónica - indizível suspenso -

4.

Em sua boca - húmida - contemplei - a noite - pedra - que vacila -

E a faca do exacto - o relâmpago - que subsiste - para dentro -velado? -

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A NOITE - RETINA CONCENTRADA -

INCÊNDIO INABALÁVEL

1.

Sentindo a navalha - na pedra - seu corpo inerme - o jogo do desabitado -

Pela água da cisterna - a noite - retina concentrada - incêndio inabalável -

2.

Mente nômade - escombros no deserto - humidade - das arcas insuperáveis -

Sal do esparso - ímpeto da febre - altas nuvens - da luz - impassível escuridade -

3.

Quem se aparta - calado - pelo fragrante - indefeso - resvala pelo eloquente -

No tempo que virá - ilumina - a voz do inexcedido - mar perpétuo - incontido ? -

ARGÚCIA DO DEVASTE

FULGOR DO ÍNFIMO – POR TRÁS DA PEDRA -

Sob a lâmina - o pescoço distendido - as bétulas - cada instante -

Lâmpada que subsiste - no fulgor do ínfimo - por trás da pedra -

LUZ PRATEADA – DOS REFLECTORES –

Argúcia do devaste - onde vislumbro - a luz prateada - dos reflectores -

Os códices - no fundo das águas - os mapas - entre as ervas salinas -

GRÃOS DE SAL – ANTE OS PULMÕES -

Cacto e orvalho - sobre a memória ténue - corpo que se dissipa -

Obstinação das pálpebras - pão - grãos de sal - ante os pulmões -

sexta-feira, 22 de julho de 2011

MAR OBSCURO - DO IRRESOLUTO -

Por sobre o sono - vislumbras a eclosão da tâmara - reflectida -

Sobre a chama - a pedra - do invulnerado - o sal - do obstinado -

Noite - luz - que assoma na retina - mar obscuro - do irresoluto ? -

quinta-feira, 14 de julho de 2011

LETRA SOBRE O INCOLUME - INCONSÚTIL EMBRIAGUEZ

O peixe e a boca de sal - a palavra que se divisa no oblíquo -

Lava da escrita - o inerme - tácito fulgor - do inominável -

Infindável pobreza do scriptor - ébria simbiose - do aéreo -

Aleph – men – thau – injustificada letra - sob o incólume -

A cegueira do hábil - nuvem do disperso - delito - blasfémia -

Renuncia e nevrose - voz - que nos compele ao indecifrável -

Inconsútil embriaguez - arte hermética - do intransponível ? -

Pentagrama do Absoluto

Subita a pedra cubica


Pentagrama do absoluto


Lucidez que perseguimos



Sobre a convulsão do arcano



terça-feira, 12 de julho de 2011

CÉU ÀS AVESSAS - MAPAS DO REVERSÍVEL

Ante o que se remove - nesses mapas - do reversível -

O céu às avessas - profusão do dúbio - in – saciado ? -

Luz - húmida - ímpia figura de pedra - sob o pórtico -

Inerme lógica - do aéreo - hieróglifos do tarô - gárgula -

Antecipando - o que subsiste - emerso - pelo visível ? -

terça-feira, 5 de julho de 2011

ÁUGURE DA GNOSE - POR SOBRE A ABÓBADA E A NAVE

TANGÊNCIA - PEDRA QUE SE APRONTA - NO ESTERTOR DA LUZ -

Eis-me junto do ignoto - áugure da gnose - por sobre a abóbada e a nave - a figura do reverso -

Junto à cal irremediável - a nuvem do propício - sua chave - antecipação - saltério químico - de nicolas flamel -

No que descerras - o tóteme do contíguo - a trespassada obstinação da geometria - ângulo ininterrupto -

Tangência - pedra que se apronta - no estertor da luz - o cinzel - do delírio - arcos do triunfo - a cabeça do baphomet -

quinta-feira, 30 de junho de 2011

UBÍQUO DAGUERREÓTIPO - LENTE DO AVÊSSO -

VOZ DO LOQUAZ - TIMBRE DIMINUTO -

1.

Entre o frémito das imagens - a célere - consumação do díspar -

Meu ubíquo daguerreótipo - lente do avêsso - luz implacável -

2.

Sob a areia - do incólume - a película imóvel - obscuro - hermético -

Justaposto - som - da insónia - o apelo do ignoto - recanto imundo -

3.

Essa voz do loquaz - timbre - diminuto - que subsiste - inapropriado -

Pela cisterna - a irrisão da pedra - a mais recôndita - lâmina dourada -

4.

No que perscrutas - comedido - a cegueira - luz oculta - inalterável -

O baú dos mapas - os lírios - que irrompem na cal - a esborar-se -

5.

Os juncos - fráguas - inflexível lucidez do aéreo - tácito fulgor -

Do inominável - obtuso - recôndito - corpo - palavra insaciável ? -

segunda-feira, 13 de junho de 2011

SIGLA E SENHA - ARTE CONSUMADA DO IRRESOLUTO

Dir-te-ei o que sobeja - da pintura - a luz - dissonante - irreversível -

Os mapas do aéreo - voz elíptica - pedra obscura - cúpulas do avesso -

Refratária voluta do anónimo - nave - que subsiste - sigla e senha -

Saciedade - téssera - pitagórica trama - arte consumada do irresoluto -

segunda-feira, 6 de junho de 2011

RECÔNDITA ARTE - GAIO SABER - LUZ DO OLVIDO -

O TORDO E O BOI - NA NEBLINA - GRALHA DO OBSTINADO - O FENO E OS MUROS -

A Maria Estela Guedes evocando a "alquimia" que tinha também o nome de Agricultura celeste e os seus Adeptos o de Lavradores

1.

Língua das pedras - gaio saber - luz do olvido - arcano maior - corpo dúbio -

Despercebida voz do fidedigno - as aves e o cervo - à beira do caminho -

O monte de calcário - para o céu - gralha do obstinado - o feno e os muros -


2.

Campo ceifado - inflexível ecrã - cálido fulgor - do branco - a desmedida do grito -

O pastor e o gado - do aéreo - yin e yang - as pegadas nas nuvens - do disperso -

Espessa luz - do desconhecido -conjecturas - placenta do anónimo - solve et coagula -

3.

Humidade do bosque - quietude da chama - irremediável - fala - remoinho de água -

Pela borda - do prado - o pertinaz fulgor - do ígneo - o som - orfandade da acácia -


4.

O tordo e o boi - na neblina - ebriedade da mente - floresta e campos lamacentos -

Sob o incêndio - a saciedade do verme - ímpeto - da erva daninha e do carvalho -

5.

A porta franqueada da torre e os ramos de jacinto - carpas pela água do irresolúvel -

Mapas do comedido - porcelanas - sais- - a lâmina e o arcabuz - ociosidade do arado -

6.

A água do inalterável - nesta colina - ar nas entranhas - alcateia - dizer do incontido -

Poço que me domina - inútil voz - do insaciável - recôndita arte - larva que incandesce-

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ISAAC BABEL, VÉSPERA SABÁTICA

1.

Isaac Babel há-de chegar - com a cavalaria vermelha - presságio do dúbio -

Entre as nuvens- caminho de ninguém - a véspera sabática - da cegueira -

Sob a côr púrpura - a chama - da escrita - na cabeça - lâmpada do prolífico -

Brisa maior - da treva - a infranqueável lucidez - irrepetível grito - na noite -

2.

Invocando odessa - a saciedade da pedra - que nos devasta - e se precepita -

Os mapas - da sonolência - lábios do sedento - pretexto do bosque indistinto -

Por detrás da impenetrável ferida - o obscuro amigo - a memória do implacável -

Luz desvanecida - do aéreo - a nudez - do ultraje - cárcere - serpente inacessível -

terça-feira, 10 de maio de 2011

CRISE DECISIVA - UNÂNIME OBSCURO - ARITMÉTICA DO INFAME

1.

Quem desfila - apressado - no meio de uma tempestade - em chamas - antevê -

O palco - da inépcia? - A nuvem suicida - do sono - a morfina - sumptuoso - animal -

E sob a curva do céu - vem pedir socorro? - Ilumina - a retina - mente - senil ? -

Quem fixa a inadiável cegueira - do visível? - Frente ao decrépito - perpetua -

De novo o inócuo - e o insignificante? - Nos confins do infame - o transe ? -


2.

Entre os códices do exacerbado - o voo dos corvos e das carpas - a lucidez do recôndito -

Este saber do incauto - sobre as cisternas - do irecuperável - o revólver - a erva e o caule -

Lâmpada de cal - na argila rasa - os ditames do díspar - canais e levadas - imagens do parco -


3.

Quem perpetua o abismo iminente - este naufrágio sem espectador - o nada e o aquém? -

No emanharado - da comercialização maciça - vislumbra - a aritmética do infame? -

E sucumbe ao ardil bancário - a insensatez? - Na errância - perambular - donde vem? -

Desperto e incissivo - se extenua - na clareza - do hostil - o labor do sacrílego? -


4.

Em vão procuro a enfastiada lucidez - o detalhe - que me cega - entre - visto -

A crise decisiva é algo de crónico na humanidade - a intransigência vacila -

Nenhum tempo é justo - o vazio se propaga - o logro - a indigente lucidez -

O unânime – obscuro - golpe e ferida – que esqueço - viscosidade do anônimo -

5.

Estou apto para o circum-mundo - a torre de pedra - a casa cárcere - o patíbulo -

Nessa nudez - na calle - o sentimento que prevalece é de um fim - de uma extinção –

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A MORFINA DO ILÍCITO - O INDAGAR DO AÉREO - DÚBIO ANIMAL - DICÇÃO -

1.

Nas suas veias - a morfina do ilícito - táctil - eclosão do exangue - osso e pupila -

O indagar do aéreo - ciosa cegueira - do visível - altas varandas - de calcário -

2.

Relutância da lâmina - erva do exacto - caligrafia breve - juncos - na parede nua -

Nuvem que deflagra e se amplia - através do areal - prado - galgo - argila rasa -

3.

A ostensiva - geometria - do anônimo - pedra do avesso - arco celeste - canavial -

Dúbio animal - laje - várzea - campo arado - constância dos baixios - umbral -

4.

Prolixa imagem - do cacto - sobre o sono - pavimento nocturno - cenografia - foco -

Embaciada luz - sôfrega mente - cingida dicção - cal do deserto - avesso do pulmão -

domingo, 1 de maio de 2011

VILANIA - HIDRA - BANCÁRIA - RASTRO DO DESASTRE - DESVELO E INDIFERENÇA - JAURÈS

Desconheces as invectivas exultantes - dos comissários - infames arautos - da insígnia - bancária -

Pela hidra - o desdém - fraseologia dos magnates - as barricadas - do alto da tribuna -

O que se dissipa - na palavra - de jaurès - grafonola - na rastro - do caos - grito -

Lucidez e escárnio - que nos faz correr - sobre o malogro - exultante - aridez capitalista ? -

Ânsia do politiqueiro - paralisia do homem algemado - desespero que retomas – pelo exausto -

Gracejos da plebe - lumpen proletariado - desvelo e indiferença - certidão de óbito – última parada -

De forçar - a mente ociosa - que nos compele à lisonja vil - a escrita - embuste - dos laureados ? -

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O PULMÃO - GUELRA - DO OMISSO - O CÂNONE DO ESPARSO- ARGÚCIA ANIMAL

1.

Há-de sempre bastar-me o inadvertido - corpo - do irresoluto - o pulmão - guelra - do omisso -

Na lucidez do extemporâneo - os mapas - arcas - abandonadas - a demência dos in-fólios -

Um ténue freixo - o avesso da pupila - a cratera - de metal - água - do inconciliável? -

2.

Dir-te-ei o incêndio - que deflagra - entre retábulos - a argúcia - animal - o êxtasse -

Após o inadiável - o pulso - amarrado - ao cais - de prata - o olhar vendado - persistência do dúbio -

A lâmina - do incontido - no cal das muralhas - pelo empedradado - o sargaço - a hélice - de gêsso -

Onde te deténs – granada obscura - do aéreo - a sombra - beleza - do mar alto - mestria da luz -

3.

Sob o cânone do esparso - a pedra - ferrovia do inepto - revólver inclemente - ponte pênsil - grito -

Réstia da pedra e da escrita - lâmpada de cal - táctil - fulgor - dos líquenes - voz do insano -

O ímpeto da corrente - na retina - relâmpagos - onde me detenho - trovador - loquaz -

quinta-feira, 21 de abril de 2011

SAGEZA -VOLÚVEL COROLA - SORTILÉGIO HAURIDO - SOB A PUPILA - EXTRAVIADA - DA SEREIA

1.

Número e figura - abóbada desnuda - sobre as águas - em seus lábios - os mapas desbotados -

Canavial - insaciável mente - prata e sombra - revólver - pátio amplo - asas de milhafre -

2.

Inadiável - torre de vigia - na retina - seixo - inerme - que o brilho - do corpo - aclara -

Luz que se dissipa - na pedra humedecida - a esvair-se - minhas ovelhas e cabras - fídago do absorto -

3.

Amnésia - dia e noite - manuscrito - longa jornada - terreiro de argila - erma colina - do incêndio -

Céu do insano - clarão - bosques e prado - falésia - ténue voz - do inadiável - altos cimos? -

4.

Sageza - crânio esburacado - tojo - volúvel corola - do incontido - sortilégio haurido -

Enlace - da cal - que fenece - o cobre - clépsidra - vicissitude do branco - desta ilha -

5.

Bátega - mar iníquo - sob a pupila - extraviada - da sereia - lâmina do sucinto ? -

terça-feira, 19 de abril de 2011

A TÊNUE LUZ - OS MAPAS - NUVENS DO SOLÍCITO - AS TÂMARAS DA INSENSATEZ

1.

Evoco cada imagem - tremente de expectativa - os repéteis mudos - sal da cegueira -

junto do solícito - a geometria - por trás das pálpebras - os fotogramas - do anonimato -


2.

Ante a lente do definitivo - o revólver e a câmera clara - o mais fremente - corpo - as mãos -

Sob os arcos - as granadas e a morfina - as sílabas - hálito do mar - noite - do irrealizado -

3.

Rente aos mapas - o céu do irreconhecível - inescrutável deserto - noite do exíguo -





Cúpula e torres - caligrafia - sombras do exasperado - salamandras - orla do bosque -






4.

No que concedo - a tênue luz - diante da ampulheta - o néon - casulo da borboleta
- pupila -





Intangibilidade - da fala - ouro - cisterna - anho - opacidade dos sinais - magnificência do cisne -

5.

Sonolência do branco - a cal - que se desmorona - na treva - pelo topo das pedreiras - o verso obscuro -

Som - da erva iluminada - a lâmina - do invariável - azul - tâmaras da insensatez - vespa - da eloquência -

6.

Por sobre as águas - a reverência das escarpas -
a intransponível cabra - nos cumes do insano -

Pão do escaso - nuvens do solícito - gralhas do inomeado - clareira - serpente do compacto -


sexta-feira, 15 de abril de 2011

REPÚBLICA BORDEL - A LEALDADE E O PATÍBULO


1.


Assistes impassível ao jogo - do tédio - o mais recôndito - inusitado delito - bancário -


A república bordel se mantém - os acordos tácitos - onde grassam as latrinas - vômito -


Conivência dos séculos com o obsceno - fascismo consumista - a violência do anónimo -


2.


Nada apazigua o medo - para lá do palco da saturação - resta-nos a lealdade e o patíbulo -


O motim - na calçada - se torna voz estridente - intangibilidade – absoluta certeza? -

FRÉMITO DO INVERSO


OMISSÃO DA NOITE - DECLINAR DO INSECTO


1.


Invoco swift - o frémito do inverso - pedra desvairada do ar -


Desvanecida e turva - lucidez - obtusa paixão do (in)visível -


2.


Devo morrer - sobre a insígnia - a omissão - da noite - o teu odor -


Trêmula mente - obscurecida - o declinar do insecto - anátema divino -


3.


Perco-me na fresta - ébrio de bosques - a águia real - hidra do espêsso -


No dealbar do distante e do lendário - o que transborda - apurado - no sono -


4.


O vazio - quer atar-me e limitar-me - a luz - remota - do irremediável -

quarta-feira, 30 de março de 2011

MAÇOM - PEDRA CÚBICA - DO AR - RECÔNDITO FULGOR - HÓSPEDE DO AVÊSSO

1.

cego e insensato - maçom - que incandesce -
Tamanho do tipo de letra

qual fiel-de-amor - sob o jugo do segredo -


neófito - no recesso do ser - estrela-guia -


2.


de novo a veemência - do dilúvio - a criptografia -


fala - insígnia - compasso - viagem - mar da profecia -


mudez - precisão vítrea - jornada - contemplativa -


3.


julguei avistar o tigre - a inflexível lucidez - do deserto -


ante o incoercível - a concisa pedra cúbica - diante - do ar -


a morada - sal - do impronunciado - desvario - flamejante -


fala do incógnito - mapa do oculto - invulnerado - certo? -


4.


o que nos compele - ao recôndito - a incontida luz - do corpo -


fulgor - do díspar - poema absoluto - parede e umbral - pupila -


reincidente tremor do indefeso - imo - solo - voz do indómito -


flama - bosque irrefutável - imensidade - chão do incessante? -


5.


cativo da pitagórica mente - o tarot - entre a lâmina da opulência -


renunciei à arraigada alquimia - da deserção - os versos do anónimo -


por um momento fixei a cal antiga - no vácuo - a magnólia e o arcano -


nas nuvens - os ditames do branco - o arcanjo - hóspede do avêsso -

quarta-feira, 23 de março de 2011

ARTE E NATALIDADE EM ELISABETE AFONSO - SIMULACROS E METAMORFOSES

Pulsão (regressão) maternal

Elisabete Afonso pode ser considerada o exemplo típico de uma pintora obsecada com o “feminino puro” ancorado no ser. A pulsão (de regressão) maternal é o ponto focal desta pintura. Informada pela subjectividade - no limiar do chamado psiquismo -representação - que nos remete a introjecção do feminino materno primário - esta arte não está desvinculada dos experimentos mentais e estratégias intelectuais - da escuta - da encenação do mundo - o “si-mesmo”.

Fazer (in)atribuível?

O debate sobre os traços dominantes na arte e na escritura actuais mostra a pluralidade das poéticas possíveis. Há, ainda, um facto característico: a pluralização de estilos de vida individuais. As instalações de objectos ou das performances tornam-se obras. Não se assiste à morte da arte: é o fim do regime de objecto. E, se é verdade que a pintura vaporizou-se - passou naturalmente ao estado gasoso - por relação à cultura de massa (comportamentos de base do animal humano), o novo regime da arte - depois dos anos 80 - é, no entanto, o do triunfo da estética. Não há duvida que a arte contemporânea tem algo desse engajamento puro - sem objecto - é sobretudo um “experimento” - processo compartilhado - fazer “(in)atribuível” ?

Esotérico e (in)apreensível

É assim que podemos retornar a aproximação com a pintura de Elisabete Afonso - descobrindo o fulcro de uma poética (in)assimilável - na vizinhança de uma (mundi)vidência feminina que emerge e se faz sentir - onde real, imaginário e simbólico se intersectam. A dialéctica do ocultamento e da visibilidade - que subentende um compromisso com a ordem significante - parece-nos essencial para compreender o seu pendor esotérico e (in)apreensível - a subjectividade - que se descobre ou traz à luz. A “subjectividade” não deve entender-se como uma espécie de eu interno que só há que expressar: donde a importância da "natalidade".

Eros e Psique

Se quisermos traçar esquematicamente um mapa “contextual” - na marca do protótipo feminino - poderíamos dizer, grosso modo, que a arte de Elisabete Afonso é, antes de tudo (e principalmente) o esquadrinhar de uma assinatura-mundo (onde se con-figura a projecção válida ou a projectabilidade). Sobre um pano-de-fundo pulsional - os significantes puros - elementos do simbólico - a sua pintura surge-nos - essencial e constitutivamente confinada ao campo do sensível - o ponto de vista afirmativo do inconsciente (estruturado como uma linguagem). Eros em Psique e Psique envolvendo Eros se cruzam na arte de Elisabete Afonso. Por ora, basta-nos reter a especificidade de uma pintura (que se entre-mostra) enquanto compulsão da repetição - mestria - insigths e pontos cegos - que abarca um “estilo” convincente - sem trégua.

Energética das pulsões

Essa interpelação do corpo libidinal (enquanto demanda irrevogável - devir - “deslocamento”) que configura (em um sentido bastante amplo) uma energética (vicissitude) das pulsões repercute-se nesta pintura - submetida que está à eclosão - travessia para os reinos pós-racionais. Encontramos aqui a ênfase da alteridade, do papel decisivo da diferença sexual, que nos permite afirmar, de modo convicente, que a arte 1) ainda não morreu - tornou-se o éter da vida - fulcro extrapolar do (in)específico - litígio - monólogo - “mise en abyme” - impacto emocional - microcosmos - e ainda que a arte 2) (re)assume, pois, uma prática experimentalista e pluralista - inflexão (in)abarcarcável - transferencial - irredutível - terapêutica - catarse - objecto de satisfação - um “não-saber”.

Dizer o indizível

Pode-se aventar a hipótese da filosofia que, desde os seus primórdios, consistiu em uma tentativa de dizer o indizível. Assim, para Hilary Lawson, a questão decisiva - de Kant a Wittgenstein - girou essencialmente em torno do paradoxo auto-referencial. Os seus impactos sobre a arte incidem a vários níveis. Mas é precisamente esta presença do ver - cujo modo é o infinitivo - a epifania da visibilidade - que assoma no esforço criativo de Elisabete Afonso. Ecos dessa visibilidade - ver o invisível - transparecem nos seus quadros - onde se agrega trauma e fantasia, amor e desejo, pulsão e sublimação. Convém, no entanto, termos bem presente a nossa (específica) inabilidade de descrever o mundo. Será que a criação, assim, neste contexto, não procura objectivos comunicativos? Até porque não restam dúvidas de que em filosofia como em ciência (e na arte) pensar é criar e criar é problematizar?

Porto, 22 de Março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

TUMULTO - RECÔNDITA PÁGINA - PRECISÃO DO TÉNUE

Junto ao que tarda - a lâmpada - voz do incólume - por sobre o mar imperioso -

O corpo que se esvai - na pedra - sobre a luz emudecida - pálpebra - de água -

Gêsso - erva trémula - hidra do tumulto - recôndita página - bosque inabitável -

A letra do inapropriado - êxtasse - evanescente - revólver - precisão do ténue -

quarta-feira, 9 de março de 2011

CAMINHO INAPROPRIADO


1.

quem persiste ágil - no grito - cerrado -rente ao caminho inapropriado - do incêndio -

persiste no clarão da inércia - a terra arenosa - da cegueira - perspicácia do definitivo -

junto ao que se repercute - retoma a intangível pedra - no ar - o âmago do insaciado -

2.

quem irrompe no inerme - campo raso - do constante - a rústica penumbra - do resoluto -

algures na vertical - nomeia a oblíqua lucidez - o inviável - e desliza pelo curso inalterado -

escala o teatro - do convincente - por capricho - descerra a lâmina do deserto - a inexactidão -

pressuroso pastor - permanece na ânsia do inextinguível - a cabra do olvido - nudez do despótico -

3.

quem ignora o que desaba a pique - o touro desperto - do inerme - a geometria do inacabado -

pela relva - contra o céu do exacto - retoma o audaz - e persiste no inflectido corpo - a fragância - da lama -

o falcão alvoroçado - brilho da nuvem - sobre as águas - a voz do obstinado - silêncio invariável -

segunda-feira, 7 de março de 2011

ANTE-MANHÃ


O ímpeto da claridade seduz
Faz jorrar a voz do intangível
Sob o jugo das tulipas
A sua omoplata silenciosa
Súbito o deserto ante-manhã
A música do resguardo

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VELIS NOLIS

seguimos sendo um instrumento de algo

A pateticidade colectiva universal que é a situação na qual vivemos - em que seguimos sendo instrumento de algo - é certamente a projecção de uma lógica de administração do tempo que se converteu numa forma moderna de expectativa da salvação. Assiste-se frequentemente à perda da relevância das instituições e dos padrões interpretativos religiosos. Outra ainda é a transformação ou reforma de conteúdos teológicos em seculares. Aí encontra Hans Blumenberg a auto-afirmação humana que constituiu a característica mais significativa do nosso tempo. A idade moderna é, no entender deste filósofo e historiador, a superação da gnose. É o começo da positivização do mundo. Assim, por exemplo, na moderna teoria do conhecimento, que aspira à certeza teórica, se vê uma secularização do problema básico cristão da segurança da salvação. Fica evidente a partir do exposto acima que todas as teorias modernas da transformação e da revolução, da subversão e do terror, são um resto secularizado da ideia originária cristã de progresso. “O horizonte histórico – diz ainda Hans Blumenberg - perdeu ante os nossos olhos o objectivo transcendente – o reino dos céus – de uma história salvífica. A transcendência debilita-se enquanto que a imanência fortalece-se”.


Auto-afirmação

Hans Blumenberg tenta mostrar que no moderno “ethos” do trabalho se descobre a secularização da santidade e também das suas formas correspondentes de ascese. O próprio postulado da igualdade política de todos os cidadãos surge como secularização do conceito de igualdade de todos os homens perante Deus. Ora pois: podemos inferir, pelo menos, que a ideia de progresso se vê – ainda segundo o historiador e filósofo alemão - degradada à condição de “secularizado” da concepção de uma história de salvação providencialmente estabelecida. É apesar de tudo a força motriz e base de uma moderna vontade de auto-afirmação, surgida por causa do absolutismo teológico medieval e do desenvolvimento moderno da política, da ciência e da técnica. Nós “modernos” passamos à concepção de uma vida realizada que já não supõe uma “vida superior”. Frequentemente a promessa eudemonista da aceleração moderna pode ser vista como o equivalente funcional das ideias religiosas de “eternidade” ou “vida eterna”, e a aceleração do ritmo da vida representa, em sentido lato, a grande resposta moderna face ao problema da finitude e da morte.

“Mobilidade acelerada”

Não se meditou o suficiente sobre a modernidade enquanto complexo tecnopolítico. Trata-se de apreender a realidade cinética da modernidade que - na gíria de Peter Sloderjik - nos fez gravitar numa “mobilidade acelerada”. É esta uma denominação de origem marciana e, em certa medida, sobrecarregada de ideais bélicos. Chega o momento em que a mobilização se traduz na chamada ascensão diabólica. Mais ainda: dentro de determinados limites, os passos do progresso (na versão da modernidade) geraram, pelo menos, novas formas de opressão e miséria. Parece que nos encontramos neste ponto. Tanto mais que, apesar de tudo, “a defesa da permanente inovação é, simultaneamente, herança e dogma da modernidade” (Mobilização Copernicana e desarmamento Ptolomaico - Ensaio Estético, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1992). Devemos acrescentar que a mobilização de massa tornou-se mais evidente que no passado: tomemos o ser-para-o-movimento. O sinal óbvio desta mobilidade é, em particular, o automóvel: ele tornou-se por toda a parte o centro cultual da religião universal cinética. Faz-se necessário insistir em afirmar, entretanto, que a aventura humana move-se em direcção ao monstruoso global. “Autonomia e desespero – diz ainda Peter Sloderjik – se tornam sinônimos”.

(Ciber)mundo

Neste contexto gostaria de começar por me referir à questão da sociedade de consumo (donde já não há possibilidade de um discurso significativo) Não se trata apenas do reconhecimento dessa atmosfera geral de economia de casino – mas ainda assim da “world” cultura, a cultura global. As manifestações neo, trans, pós são mais discretas, mas afirmam-se mais em cada dia. A verdadeira vida (desregrada no sentido rimbaudiano) passou a ser necessariamente o videojogo. O problema está posto: a prevalência da manipulação e da amálgama dá o carácter principal à actual fase do (ciber)mundo. O que é novo é, antes de mais, a dificuldade ou resistência de se aceitar o “não-visualizável”. Tudo é agora visualizado. As nossas dificuldades vêm sempre da superabundância das imagens: quando o ver avança, o pensar recua - alternadamente. Há uma disseminação infindável de imagens que – repetimos - destronam a palavra (enquanto oferta de salvação).

Sensibilidade vicária

Como podemos ultrapassar esta primazia da imagem – no que respeita à prevalência do visível sobre o inteligível – que frequentemente nos leva a um ver sem compreender? Talvez o mundo multimediático em seu presente não seja apenas aquele divisado por Giovanni Sartori – como pressupomos - simplesmente bloqueado naquele ponto em que o ver está a atrofiar o compreender (Homo Videns, Televisão e Pós-Pensamento, Terramar, Lisboa, 2000, p. 43). Estamos entrando agora, por impotência ou vileza, em uma era da sub-informação e a des-informação (assente na produção de pseudo-acontecimentos). E no tempo das redes – da comunicação frequentemente heterodigida – onde não podemos renunciar ao amâgo de uma “lógica circular”- já sem qualquer centro - as amarras do trivial e do insignificante. Verdadeiramente o aumento da credulidade e da supertição é suficientemente revelador para não termos de temer essa constatação hoje evidente: a idade do pós-pensamento. Como explicar, por exemplo, que a sensibilidade vicária - viver através da experiência alheia - seja um traço fundamental da nossa cultura? Sucede mesmo que os nossos impulsos fragmentários e caleidoscópios despontam numa atitude blasé.

Imperativo dromológico

Admite-se, por posição de princípio, que a nossa sensibilidade é formada pela exposição urbana (embora inclua simultaneamente aspectos vários). Mas como entendê-la? George Simmel descreve o nosso estilo de vida urbanizado abordando, contudo, as formas das diferentes culturas do tempo que coexistem dentro das modernas sociedades avançadas. A aceleração é, em certa medida, o movimento temporal predominante hoje em dia, mas não é o único. Efectivamente, a aceleração está omnipresente nos mundos do trabalho e do consumo, mas também está no mundo da vida quotidiana, projectando em todos eles o seu imperativo dromológico (seguindo a noção retirada de Paul Virillio).

Globalização

Não há margem para dúvidas de que o corrector da bolsa é o seu protótipo: tentar fazer o máximo de coisas possíveis no menos tempo possível, andar mais rápido, acostumar-se ao incremento sem fim da velocidade do ritmo da vida social. O “fast-food” - e, ainda dentro do mesmo registo, as “parties”- parecem, então, revelar um estilo alimentar de vida acelerado. Com a centralidade da globalização (global players) assiste-se à des- localização do capitalismo multinacional e seus fenómenos correlatos: a violência estrutural ou a violência da injustiça. Por um estranho paradoxo, as maiores velocidades sempre estiveram associadas aos estratos mais ricos da sociedade. Riqueza e a velocidade têm um efeito colateral: a exclusão. A doença de hoje é a insegurança, que é um outro nome do medo. Sabemos que uma parte crescente da população activa experimenta mesmo a obrigação do tempo livre como desempregado ou como reformado antecipadamente.

(Sub)cultura

O ponto importante que desejo enfatizar aqui é que existe um mundo do (pré)constituído que quase nos identifica com uma sensação sem precedentes de responsabilidade pessoal e impotência individual. Foi-se assim generalizando a aceitação de um certo mal-estar - no liame de um século desgastado pela ascensão e queda das ideologias tradicionais - logo revelado por uma (sub)cultura dominada pela simulação e a hiper realidade. É portanto legítimo acentuar que nos quedamos num mundo de imagens e de simulacro puro. Depois disto, como nos havemos de admirar que o vídeo tenha substituído o diário pessoal?

“Simultaneous happening”

Devemos agora reconhecer que as nossas sociedades surgem associadas à dramatização do poder e do acontecimento e, por que não dizê-lo, a um excesso de informação e de comunicação. Poderíamos designar este estado como de “simultaneous happening”. É certo que, em sentido rigoroso, o poder tornou-se publicitário; e isso não é coincidência. Discutem-se, assim, as técnicas do audiovisual de que o poder dispõe. Ninguém escapa à chamada dramaturgia democrática: a propaganda (na sua articulação com uma linguagem padronizada e homogeneizadora). Nestas circunstâncias a exasperação do espectacular pela irrupção da imagem – garantido por um mundo televisionado - tornou-se uma evidência. Um exemplo entre outro desta contaminação temo-lo na subordinação efectiva, decisiva e absoluta do indivíduo metropolitano ao espaço gerado pelas telecomunicações - com e pela instantaneidade e ubiquidade.

Subtom melancólico

Dir-se-á que o subtom melancólico que nós hoje conhecemos é feito de uma multiplicidade de posições-sujeito. Já falámos da psicanestia, da compulsão obsessiva, da desconexão entre o corpo e a mente, da emersão na velocidade (originado da cibernética), da rearticulação do verbal pelo visual nas nossas sociedades (MEGALÓPIS). Assiste-se no seu conjunto em concreto à generalização da teatralização (mediática). O próprio eclodir de uma estética da embriaguez nos induz a uma forma de anestesia (que conduziu ao declínio da consciência crítica). Uma reflexão sobre a crescente importância e influência das identidades culturais híbridas ou desterritorializadas deve comportar, ao lado do que diz respeito à fragmentação e a alienação da subjectividade, um exame do colapso das maneiras convencionais de formação de significado. Assiste-se, sem dúvida, a uma circulação e revalorização do “kitsch”: nele convergem a reclicagem (ir)reverente, o gosto pela iconografia e pelo artificial, o melodrama e a super determinação. Mas tudo isso não serve senão para confirmar uma sociedade que se converteu em espectáculo (Guy Debord). Divisamos de facto uma ruptura da ordem sistémica que é uma passagem para a afirmação da desilusão com as narrativas mestras da modernidade. O ponto central está no facto de que a referência humana à realidade (se aceitarmos a sugestão de Hans Blumenberg) é indirecta, árdua, retardada, selectiva e, acima de tudo, metafórica.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sussuro do tigre

Quem fixa, ao revés da pupila, o obtuso? Amplia o inabitado? Quem procura, em vão, a instantânea luz, que embriaga, sobre o irremediável? Quem persiste no clarão, a palavra decisiva? Ante a voz do ínfimo resvala no tremor, o indizível? As águas vem tocar, o sussuro do tigre? Insaciável, na veemência do corpo, sob as pedreiras? A música do aéreo?

ÍNGREME

Forçado a seguir o verosímil ignoro a inépcia. Insensato, obscuro. Necessito sentir a pedra sobre a voz do esparso. Nunca esquecerei o tumulto. A inexpugnável luz. O que sabemos? O que devemos saber? Deixa que permaneça arauto do íngreme e do que vacila. Junto a camille claudel. Irrompa nessa desmedida dos sinais. Ininterrupto, incessante.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

MERCÚRIO CLARO

Vou perscrutando a visibilidade dos in-folios. Profetizando sob o livro: o dia da libertação. Eu me esforcei por vislumbrar o fulgor do irredutível sobre as tuas pálpebras. Como se patenteia a beleza do arcano? A voz muda do ardor? Eu queria certeza e sabedoria. Que testemunho te darei sob o mercúrio claro? Sorvi os nenúfares da loucura. Viajei pelas colinas da judeia. Difícil é dizer o ímpeto alucinado, a veemência do tremor. Junto à palavra do veraz negarei tudo o que aprendi?


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ANJO DÚBIO - VOZ DO PÓSTUMO - DESAPRENDER

iluminar a fresta - o revólver de cal - cisterna de pedra - memorial - o anjo dúbio -

deambular no aéreo - pela lanterna do opaco - o insondável - junto dos regatos -

transigir com o exemplum - a saciedade da erva - e voz do póstumo - desaprender -

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A PACIÊNCIA DA METÁFORA - A PLENITUDE DO ESPÊSSO

LÂMINA DO AUSTERO

quem perpetua a insónia - a lâmina do austero - pelo aéreo - a pólvora do obstinado -

sob o revólver - junto ao castanheiro - retoma o que se repercute - na íris - diafragma -

água e cegueira - sôpro indolente - da erva - ossos - animal gasto - penúria do nada ? -

NUDEZ DO INITERRUPTO

pelo corpo do ileso - o incongruente peso - da voz - tacto - inquietude do branco -

a escuridão do díspar - nudez - água do ininterrupto - cal - retina do ilimitado -

INCENDIUM AMORIS

sobre os lagos e os lameiros - a mente - os ditames da escrita - incendium amoris -

o estampido na neve - goteiras de zinco - lebre - a intangível sageza - dos arquivos -

PLENITUDE DO ESPARSO

ignoras a paciência da metáfora – a chama da luz rasgando - o som do estilhaço -

o que claudica - na pedra do augúrio - plenitude do esparso - irrefutável - nuvem ?-

PELICANO DO DESERTO

junto ao casario - em chamas - os alpendres - delimitando o céu - prateado -

as bétulas - pelicano do deserto - bosque do definitivo - oblíquo - inverso -

BAÚS DO EXAUSTO

sob os baús do exausto - os in-fólios - plenitude do espêsso - a eclosão do díspar -

nos confins da memória - a lâmina do indizível - penunbra - insaciável desabamento ?-

PEIXE INABITÁVEL

no que vislumbras - as reprêsas - o peixe inabitável - que se condensa no exímio -