sexta-feira, 30 de outubro de 2009

NUVEM INACESSÍVEL

1.

secreta mente o ouro resplendia

iluminava a voz do imponderável

2.

No rastro do branco a cor assoma

O que se dissipa no pulsar da treva

3.

Apreendemos a desmedida do incêndio

Pelo mais recôndita cegueira o explícito

4.

Saberemos fixar o meticuloso o inexcedido

O que se furta à eloquência do despropósito

5.

A luz nuvem inacessível se mantém o premente

6.

Sobre o inexorável o fulgor do corpo e a deriva

A desmesura dos sinais e a distância inigualável

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

GEOMETRIA DO ANOMALOM

Esparso

1.

Sob o pórtico iluminado

Fixas o êxtase da pintura

A justeza do abrupto

O branco que deflagra

Na sucinta pedra

A insensatez

2.

Nessas paredes mestras

Retomas o esparso

A cegueira do visível

3.

Sob essa luz

O propício corpo

A geometria

Do anomalom

O que desaba

sábado, 24 de outubro de 2009

Incendie Lointain

La poursuite vertigineuse de l’émotion – la spendeur de la pénombre et la lumière – donc – tu marches dans mes rêves.

Je ne sais pas s’il est vraiment le jour – il y a que la transparence de la flamme – ta lumière – c’est au soleil que nous tendons –

Sans dire un mot – murmurant – au dessus des yeux - eclosion de la nuit – en flottant – parlerais-je une langue – audible- d’enchantement ?

Laisses tomber la pluie – autour du feu – m’entrelacer dans ton corp – sans dire un mot –

Jusqu’au transe – en me laissant tomber – par mes yeux dans les tiens – alors que me suis remis au lit

J’ai vu la passion – son image – belle – endormie – au coeur de la nuit – Qui me traverse l’esprit – incantatoire

Immenses zenith de la langue – hauteur poetique – si fragile – passion

Longue fut cette nuit – euphorie solitude ivresse – une voix m’est venue en rêve – ton signe – des beaux incendies.

Je n’avais – comme tu savais – qu’un chat noir- moi – soudain insatisfais – et qu’une maison – ma chambre ou j’allumais une cigarette – angoisse – des tableaux de charbon- masques superbes – et tes yeux

Donnes-moi une belle couleur – ce que l’on nomme d’eau – le mot visible – dans le delire consume

Au seuil du sommeil – poursuits ta demande – sur le chemin de l’amour – que tu illumines

Longtemps - touchant le vide du ciel – je ne sais plus – au-dessus d’un rêve – quand tu reviendras

Il n’y a plus que le voyage – l’âme inexprimable – je tremble encore une fois jusqu’a perdre la raison

Sommeil inattendu – reve – manifestation – tu – visage excessive – eclats de la voix – transpiration – d’attente.

Je t’ai vu – au plus profond – le demi sommeil – sous la musique –insaisissable


Courtes, Porto 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CLÂMIDE DE PÚRPURA

Ante o corpo devastado indaguei a noite
Sobre as grandes catedrais
Apaziguei a dor
À procura dos sinais funestos
Retomei o que enlouquece
Do céu desceu um clâmide de púrpura
A pedra perene da levitação
A voz do anjo
Se esvai perpassada de ecos
Sombras e dilúvios

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O INOLVIDÁVEL

Volúpia do cisne

Perpetuas a volúpia do cisne

Sobre os plátanos a lucidez

Do corpo quando te despes

Nuvens do obstinado

Que corpo fugaz se insinua

Nas nuvens do obstinado

Inebriado me arrebata

Ancas e ombros toda a temeridade

Voz da loucura

Dir-te-ei a voz da loucura

O corpo do inominável

A nudez do sumptuoso

Na penumbra dos sinais

Sussuro da voz

O que apazigua o incêndio

Na palavra escrita

O sussuro da voz

Alucinada

Umbral

De umbral em umbral – a erva nocturna – o inolvidável

O terrestre

Ignoras a apoteose do que resplandece

no tumulto - junto ao que ecoa - o terrestre

o tigre e o branco que nos sustém

- a pedra da loucura - onde a lucidez se perde

Sagesse

Sobreveio por completo a sagesse

A perspicácia das metáforas

Em meus versos exasperados

Réstia do branco

Escura e turva nuvem que me cobre

A nave o âmago da pedra sobre nada

A réstia do branco e o orvalho furtivo

A mão que acena sobre o que incendeia

Porto, 21 de Outubro 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

INCOMENSURÁVEL

irrompendo pelo incomensurável
o recato falou
furtiva a chama imóvel
por entre as papoilas
na desmedida do branco
a nuvem no escuro de seu quarto
o secreto lampejo da luz
sobre o dia nublado

Sens

Je contemple ses yeux avides – Qui me demandent mon secret qui t’appartient – halo d’or – insondable?

Que mes yeux vont plus loin – éclatant proximité de l’invisible – tu deviens secret – transmutes ma fureur

Révèles-toi – tu te rencontreras – dedans – subconsciemment

L’écho débordant – des heures insatisfaites – rêve – d’une nymphe qui dormait dans le fond de la mer

Dans cette torpeur j’attends – le murmure magique – sa voix – à travers mes rêves

Laisse m’enivrer du simple éclat – des yeux – le cœur veut s’illuminer – cette nuit

Je restais sans voix – consumée dans l’infini – puisses-vous ouvrir mes yeux d’adolescent – je demeure des nuits a t’espérer

Ta voix – jadis – troublait mon sang – avec des tentations aventureuses


J’aime ce qui en toi me métamorphose

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O IRREMEDIÁVEL

DACHAU

- do anjo - da história - pesa a fremente dor – a impossível - morada - exilados - na terra – somos fantasmas esparsos - céu afora – em dachau - tudo se torna grotesco e lasso – nenhum milagre – deus – prestação do futuro - sobre os baixios – da desolação – a nudez pressentida - o gás -
no sussuro - da morte - eu fui o primeiro a entrar - obediente à chamada - dos algozes - irreconhecido - recordo apenas as lições da desdita - o irremediável - a neve responder-me-á ?-

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A BELEZA DO ARCANO

LUZ SONOLENTA

Não me escrevas! Deslumbra!

Sou espanto desnudo do caminho

O rumor de um largo escrito na orla da noite

Sou o prado e a cabra luminosa o que sussurra

Sou o canto indizível num espectro de pedra

Uma luz sonolenta e o orvalho inconsistente

A neve e a erva dócil junto da cisterna

Sou a abóbada e a nave do incêndio

Sob a voz obscura que finda

BOSQUE ERMO

Por sobre o bosque ermo

O relâmpago

Sob os carvalhos

Apenas vejo o vago e o fugaz

Quando o incêndio espreita

TAROT

Torno-me esquivo no alento da pedra

Rendido ao arcano maior do tarot

Sobre a erva me reclino à tua espera

Absorto por sobre o fulgor da lâmpada

Na voz humecida a luz do ininterrupto


INFLAMMATUS ET ACCENSUS

1.
- sem que saiba a beleza do arcano - a insensatez dos versos - a língua do exausto - a minúcia da escrita - o simulacrum - o que se furta ao interminável -

2.
- a voz do anónimo - nessas éclogas - a penumbra do excesso - a minúcia do que tarda - o irrepresentável –

3.
- nesse limite do corpo - o penoso - a exuberantia do incontido - o premente - o inapropriável –

4.
- sou afrodite, corpo enigma, mar de cobalto – o parco e o inexcedido – o léxico e a carência – a clarividência do excesso –

5.
- a demência do láudano - o prévio – o indeterminatum – inflammatus et accensus -

VOZ MUDA DO ARDOR

- sobre o ímpeto alucinado seu corpo exangue - a voz muda do ardor - o incomensurável – a erva muda - donde provenho - a justeza do abrupto – o deserto - o fulgor do irredutível -

Porto, 15 Outubro 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

NO RASTO DA LUZ PRATEADA

Falésia

- entre as tendas da praia - junto à falésia - no rasto da luz prateada – recorro à memória. Que se me evoca o pátio: a árvore do júbilo. Vêem-me à tona as imagens da porta entre-aberta. Ante o atelier de cézane - vislumbrei os quadros - o chão de lages escurecido – e as tuas pálpebras escurecidas. Anos mais tarde regressei à velha torre - de pedra e cal. E ao longo da duna – vi o acaso rubro sobre o mar verde e os relâmpagos reflectidos. Da próxima vez, demorar-me-ei. Dir-te-ei a cláusula celeste. O que se repercute na voz em meio às naves.

Sereia

-lembro um diagrama antigo - a melancolia mesopotâmica - um resto de nogueira de altenburgo - um cacto na minha parede do sexto andar – o retrato do jovem ésquilo ali mesmo – sob a ponte de brooklim – a amplitude do deserto - sempre recomeçado - a terra extenuada que me prende – voz inimitável – da sereia – que me impele à doce ciência de que vivo - o cemitério marinho – sobre o ouro e a pedra – inflexível -

Ambrósia

1.
- como tirésias - a toda a hora me confunde a cegueira - instantâneo visionador - guardo as imagens do inexcedível - a ambrósia dos deuses – o azul e a pedra - o que transbordou da inépcia – a espuma do nada e a voz do incêndio –
2.
- o que vacila na luz – sobre o empedrado – minha vereda – precipício mudo -
3.
- sob as nuvens convulsas - esse corpo da insónia - na tela colada ao céu indefinidamente –
4.
- o azul das ondas - por sobre as estrelas - o que se repercute no silêncio dos icebergs - a baleia branca de herman melville -
.
Estrada azul

- quem se aparta desnudo , passo ledo, pela estrada azul, da luz volúvel se nutre? cego expulso dos dias futuros na inacção renuncia? A deus, o seu poder oculto - ?

Presença porosa

Tudo retorna ao impreciso, a douta ignorância, sobre a luz inobjectiva. Num relance torno-me díspar. Descortino a forma, o ocre. A presença porosa. O insensato delírio da pintura. Onde me encontro, lá estás. Procuro saber que voz resgata o meu passado. Minha cegueira, solidão, não mais pode ser mantida.

INEXORÁVEL MUSA

torpor do desvario

- por entre a tela branca - na lucidez que se esvai -que grito assoma
traço se desvanece ? - quem se furta à inexorável musa - no torpor do desvario – irrompe pela luz - o inexplícito? -

sinais

- nesses lábios mudos - a sua face evanescente - a opacidade dos sinais -

terça-feira, 13 de outubro de 2009

UMA ENCENADORA DE SI MESMO: DEBORAH NOFRET

Bricolage(s)

Depois de em 2006 ter exposto as suas obras em Lisboa, sob o título de Arritmias, Deborah Nofret leva agora ao Porto "Preferências Prestadas". Esta mostra pode, muito propriamente, ser considerada o resultado de vário decênios de experimentação e que consiste, por sua vez, em uma espécie de (re)consideração das tecnologias digitais (onde perpassa um modelo, muito abrangente, de arte como “constructo”). Estamos fora do alcance instância da(s) autorferência(s) identificatória(s) e da auto-representação - a chamada matriz narcísica-desconstrucionista, de um eu fracionado ou pulverizado, virtualmente invisível - , que, por si mesmo, pode ser tomada como ponto revelador da sua arte. Estamos assim no limite de uma ambivalência original que, contando prática e exclusivamente com os recursos das artes mais ou menos áureas, - o “suporte” fotográfico e/ou pictórico – guarda uma nuance de poeticidade. É isso que constitui a sua autenticidade.

Speculum

Sucede, por vezes, que os criadores – e eu aqui só me refiro, já se vê, às suas “démarches” aparentemente dispersas - , ganham consciência das suas obsessões – as feridas do simbólico, mais que feridas simbólicas –, e da unidade dos seus temas – aleatória e ecleticamente, fragmentando a coesão e a continuidade tão queridas da arte elevada -, surpreendidos por se verem tão iguais no diferente. Podemos hoje falar da obra arte (a escrita contemporânea) enquanto cifra, revelação, speculum, bricolage? Enquanto corolário do que é manifestus - algo que o homem produz com sentido expresso – e, em última análise, excessus?

Beleza?

Existe, pois dissemo-lo, um modo de ser específico: a obra de arte, onde se patenteia a beleza de um tempo não-reconciliado? Como avaliar o (des) acerto, a (in) consistência, a rasura, o resíduo in/decifrável das configurações criadoras, das diferentes versões da arte, os seus traços intempestivos e o seu rastro (e)scritural ? Algumas vezes mesmo, torna-se difícil avaliar os limites que separam os planos ou “níveis” da arte, tanto mais, que a par da identidade reencontrada, é preciso ter em conta a multiplicidade aberta numa obra. Será que a afirmação de Max Bense em “Aesthetica” de que a beleza é, pois, aquilo no qual a obra de arte supera, transcende, a realidade, é verdadeira? Contra este ponto de vista pode, todavia, objectar-se o que se segue: ainda que se dê relevo à noção, por motivos óbvios, de produção e percepção da beleza, não se deve deixar de reconhecer, como quer Marc Jimenez, que a arte contemporânea nasce efectivamente sobre um terreno preparado de longa data pela desagregação de sistemas de referência, tais como a imitação, a fidelidade à natureza, a ideia de beleza, harmonia, etc., e pela dissolução dos critérios clássicos (La querelle de l`art contemporain, Paris, 2005).

Resist/diver/(g)ência

“É o prefixo pós, dizia U. Bech, a palavra-chave do nosso tempo”. Tudo é pós”. Mas até nesta visão extrema persiste ainda algo performativo que proclamamos, pois o criador como ser da resistência ou, mais exactamente, da divergência, rompe habitualmente com os interditos e, dentro da arte, tudo é permitido. Talvez não tenhamos sempre o sentimento vivo que nos permita a formação de novas maneiras de significar. É certo que, de alguma maneira, ao nível das práticas artísticas, nos encerramos numa amálgama de tradições diferentes (e muitas vezes inconsistentes entre si) que beiram a incompatibilidade. Nada tem de estranho que, num mundo “tecnopolita”, reine a mais ampla tolerância em relação a todas as formas de arte e todos os estilos sem distinção, que entram – como Jean Braudillard chegou a dizer - no campo estético da simulação.

Do (im)previsto

Viver com a própria repetição é aceitá-la, mas é também tê-la em consideração. De resto e a despeito das aparências contrárias, as repetições na arte e na escrita não são nunca estéreis. O trabalho criador – onde ser é habitualmente fazer – expõe-se a mil encontros dos quais a maior parte são (im)previstos. Temos de prepara-nos para o (im)previsto. Dá-se o caso que tudo é virtual, no sentido em que hoje se emprega este termo, porque habitamos, concretamente, um universo inteiramente formado por imagens. O mundo virtual é, para usar a terminologia de Gilles Deleuze, um universo de efectividade-imagem. Porque é nisso que é preciso insistir: a tecnologia tomou a dianteira. Será que a tecno-ciência está preparando aquela catástrofe do humano que Heidegger chamou a atenção (seguido de perto por Jacques Ellul, Baudillard e Virillio)? É sabido até que o monstruoso criado pelo homem tornou-se manifesto: o monstruoso no espaço criado pelo homem, como monstruoso o tempo criado pelo homem e ainda como o monstruoso nas coisas criadas pelo homem. “A lei da modernidade, sobre este ângulo é, segundo Peter Sloderdijk, o crescente “engagement” de artificialidade em todas as dimensões essenciais da existência” (L’Heure du cime et le temps de l’oueuvre d’art, Calmann-Lévy, Paris, 2000, p. 29)

Hibridações

Pode dizer-se, de maneira geral, que assistimos à (est)ética da) desaparição das fronteiras entre as artes. A adopção do cruzamento e das hibridações das práticas e os materiais - sob todas as formas, como na sua diversidade e antagonismo, - aparecem, no fundo, como recorrentes. Será que os criadores se tornam coagidos, por fidelidade ao sentido que buscam a procurar o vasto domínio das inovações, experimentações, das correspondências inéditas e das polivalências - na demanda de um nova (in)coerência? Deve, pois, examinar-se o caso das referências ao passado, citações, imitações, miscelânea de estilos e o ecletismo. Damos por suposto, claro está, que nem sempre o frenesi do novum e a chamada fé na possibilidade da arte rompem com os cânones académicos e os valores artísticos tradicionais.

Internautas e náufragos

De que modo reconfigurar e redefinir o novum (tomando por base o já constituído a que se reporta)? Poderemos aludir ao terreno de um “eu saturado” de “fracturas” e de “malogros”? Na verificabilidade ou confirmabilidade de uma paisagem repleta de internautas e de náufragos? Se existe um assunto ex(im)plosivo é o das relações entre a tecnologia e a arte, Deborah Nofret documenta essa preoupação, muito expressivamente, em sua obra. O seu carácter inusitado tem o mérito de chamar a atenção para os avatares tecno-digitais propícios a criações inéditas. Vem de longe este seu “engagement” - na via da emergente cultural digital - com o grande organismo que circula nos vasos comunicantes das redes. Ela parece mostrar-nos que a arte não é mais uma questão de definição mas de realização. O seu fazer poiético intervém aqui apenas como inverso do cliché fotográfico (quadrícula) ou da pintura a óleo (tela); intervém por detrás da multimédia, a sociedade-rede, a troca informática, a promessa virtual (de uma espessura de sentido em novos registros).

“Montages-cut”

Dissociando-se, no plano criativo, da encenação de si mesma – a encenação da verdade – que é o próprio acto de sair de si própria, Debora Nofret retoma, ainda que com outra densidade, a criatividade originada da pesquisa (tomando a lógica ou a resposta-meditativa de uma “deriva”). É necessário determo-nos sobre a base experimental e interactiva dos seus quadros (sequências-narrativas)? Todos os entrelaçamentos e as conexões que caracterizam a sua obra remetem-nos para imagens sintéticas ou sínteses de imagens. Nas suas peças - montages-cut” ou bricolage(s)- alcançamos familiaridade com um trajecto de arte que corre o risco de desaparecer por detrás da multimédia. De referir que o conceito de bricolage de Lévi-Strauss foi retomado por Jacques Derrida, em “A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas”, mas para esboroar a dicotomia entre o bricoleur como improvisador e o engenheiro como o que patrocina um tipo de conhecimento que privilegia a sistematização e o método. Todo o discurso, traduzindo em termos simples e acessíveis, na linguagem derridiana, é bricoleur” e “o próprio engenheiro ou sábio são também espécies de bricoleur”. Cf. Derrida, Jacques. A escritura e a diferença, p. 238-239.

Porto, 29 de Setembro 2007

domingo, 11 de outubro de 2009

A FACE DO VISÍVEL



quem se aparta
pelo céu escurecido sob as primeiras estrelas
incendeia à saciedade
a face do visível
permanece sob os carvalhos
pela música do inenarrável
quem após longas vigílias
busca o emerso corpo
a face morena empalecida
o sussuro da voz incandescente
quem no encalço da essência artística da arte fixa o delírio
seduzido pelas sereias se regozija com os gerânios

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O IMPLÍCITO

Naves

O que nos circunscreve às naves

O branco - a cal dos frontispícios -

No rastro do tácito - ao invisível -


Irresoluto

Quem emerso no irresoluto – se expõe -

Faz brotar a luz - a voz do prolixo -

Na constância da pedra fixa o explícito

Junto ao que se dissipa - de divina propotione -

AS TÚLIPAS

Inapreensível

- quem ilumina a lucidez do obscuro – o inerte - na demência das palavras - o incólume – o que se refracta - permanece junto do inapreensível - a quietude - sob as abóbadas e as túlipas – em segredo - retoma a imagem baça - junto da vidraça – o corpo do aéreo - mudo - a luz que incide sobre as costas nuas - a voz do intocado -

Ante-manhã

O ímpeto da claridade seduz - faz jorrar a voz do intangível - sob o jugo das túlipas - a boca - interminável - compassiva - através das cortinas - o esguio - corpo – e essa lucidez do aéreo - que omoplata silenciosa - mão escassa - se me abre – protectora - súbito o deserto - ante-manhã - a música do resguardo ?-

Porto, 9 de Outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

TREVA

Quem resvala na treva da voz pelo inesperado

Vacila na palavra nua que o efémero acalenta

Junto do círio a arder ilumina os signos do céu

O exausto corpo o fulgor da cegueira inconciliável

INSTANTÂNEO

Quem permanece inerme sob a voz

Que o corpo apronta – saciado -

Quem se detêm pelo obscuro - hermético -

Nessa terra de ninguém – cego – se precipita

Sob a luz dos daguerreótipos – emerso -

Ante o que se remove – ousa fixar - o infindo -

No rasto da película - divisa o intantâneo –

A imagem nua – o tácito fulgor – do inominável

NOS CONFINS DO REMOTO

1.
- com que intento permaneces - ante a tela branca - pelo inarticulado - na constância - da luz astral - o alarme - junto à saciedade do azul - retomas – a voz do insone -
2.
- a imagem dourada da insónia - o que se desmorona sobre a amplidão – junto ao teu corpo desabrigado - nos confins do remoto - a indagação mortal -
3.
- evola-se meu ser na noite - sob o manto da penúria - o que é fiel - prelúdio extático - da nudez -
4.
estender-me sobre o seio - a lâmpada estilhaçada - sibilante - a voz da deserção - opaca – secreta - o que aparta alusivo - pela intempérie - há muito pressentida - o que se repercute - velado -

Porto, 8 Outubro 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ciel de Soleil

Je vois du ciel – trop beau – le soleil devant mon sommeil- jusqu’a perde la raison – ses yeux – dans l’azur

Ton sommeil se pressent – faisait face au soleil – allait de tous parts cerner le mien

Se voile la face belle – doucement – tu resplendiras

Suis-moi – dans la folle mélodie – la passion – insondable – la rumeur des anges

Comment fixer - le plaisir – partager les mots assidus – aux confins du corp – le feu – dans la nuit

Si lentement ton regard – Qui va allumer ma lampe – et la respiration – le secret du jour en feu

Je veux atteindre – des murmures de l’eau – ce ciel – d’une voix – sensuelle – passionne

Qui cède aux chemins de la solitude – de l’aventure – attendre la musique du silence – le rythme du coeur?

LUCIDEZ


Permaneces junto ao que desaba
Sob as nuvens dispersas
Inacessíveis
Luzindo sobre o mar
Entre a intensidade e a dor
No transbordar da pintura
De quem se sabe expulso da treva
Que a arte se torna aridez