sábado, 27 de novembro de 2010

“EX-CRETA” DE VIRGÍLIO LIQUITO

O EVENEMENCIAL E O PATH-ÉTICO

Quais são as principais características textuais - a marca decisiva (difícil de identificar) – desta contra-narrativa ou narrativa da diferença - de Virgílio Liquito? Quem saberá destrinçar o que em “Ex-Creta” há de saída do labirinto, o que há de “instância” path-ética, neuropática e maníaca (admitindo a loucura ou, por definição, a sagrada esquizofrenia dos antigos gregos); o que há de recalque, trauma e clausura, de via do infra-humano e do atroz (sob os liames extremos da fantasmagoria excremencial)? Qual é o conteúdo básico do seu discurso (in)habitual? O que é interpelado ou representado? O que se configura neste jogo discursivo - misto ou híbrido - incessante - compulsivo - ordinário - transgressor - não-linear - engendrado entre a combinatória de situações limite e do cruzamentos complexo da língua e efeitos de sentido? A introdução do inadmissível num mundo somente admissível?

Sub-mundo, puzzle

O livro que ora analisamos - na sua mesmidade - discurso-outro - irrompe e afirma-se como ligação ao idioma des-construtor (deliberado ou não) ou à assinatura des-construtiva. Ainda aqui na constelação dos efeitos da repetição significante, do corpo-pulsão, que se torna psiquismo-representação. Aceitando a noção de “foraclusão” - definida por Freud - que designa, em primeiro lugar, a “expulsão da coisa”, expulsão que funda o sujeito e inaugura a sua produção discursiva. Lembremos a lógica dual destes textos - onde se re-afirma uma escrita nas cadeias de eros - entre as opções de gramática e de estilo - o real sócio-histórico e a veracidade testemunhal e a fidelidade autobiográfica. Implica, como tal, e pela temática envolvida, toda a re-actualização de um sub-mundo obscuro - (in)directo - aspectos e modalidades do dizer e do não-dizer - ou do implícito e do explícito - subterrâneo. Falámos acerca dum material inconsciente - não passível de interpretação e de recordação - que aparece então como “actuação-repetição” de um passado esquecido: “inusitado puzzle” (p. 31). É sob esse enfoque “sublimatório” que deve ser lido Virgílio Liquito.

Escrita-dejecto

Seria aliás difícil negar o sentido propriamente “ex-cêntrico” no qual esta escrita não cessou nunca de se desenvolver. Nada há aqui de fotografia “polaroid” do real. Poder-se-ia apreender a sua lógica enquanto “poética” da “ex-posição” - do singular - do “isso” - a parte obscura - impenetrável do humano (tomando a psicanálise). Falámos da con-figuração de uma escrita-dejecto, viscosa e idolátrica, fetichista, excre(de)mencial, (des)sacralizadora. E que, neste ponto, nos remete ao ateísmo da revolta e à blasfémia - um mundo de penumbras donde é necessário valorizar a sombra e apreciar os reflexos apagados. Mas tomando em conta que o centro desta “escritura” é praticamente determinado, segundo o nosso ponto de vista, pela sua inflexão libidinal, o pendor revelatório e transferencial. Outra hipótese mais complexa: a sobre-posição desordenada, a circularidade, o deslocamento, ou antes, a deriva narrativa. Porque o modelo prevalecente é o da linguagem exorbitante oriunda dos “Contos de Maldoror” de Lautréamont e de George Bataille.

Sujeito acéfalo, pulsão

“Ex-Creta”, de Vergílio Liquito, é um exemplo de um dizer náufrago - capaz de dar voz ao silenciado - a psicose - o (in)formulado - e onde se associa o real enquanto “impossível”. Mas há mais. É preciso ter em conta o caos pulsional - a dimensão delirante (mórbida) que deflagra nesta escrita - as premissas e os postulados de uma memória falaciosa - e certamente (in)capaz de reproduzir o passado - um processo (psico)patológico. Eis aqui um conjunto de textos na sua determinação “própria” de transgressividade narrativa - sintoma – quase sempre emersos no fluxo das recordações-puras, da rememoração, que condensa em si o sujeito acéfalo da pulsão. Não custa, porém, a perceber um universo discursivo marcado por instabilidades, no qual se fixa o fluxo dos distúrbios constatados e nada mais que estes distúrbios. Daí a sistémica do descomedimento, da expiação e da catarse (inseparável do autêntico trágico).

Fantasmas, simulacros

Alguns pontos do percurso do nosso autor são valiosos para mostrar a veemência de uma linguagem aparentemente aleatória e (im)previsível. Trata-se de uma escrita - que se furta aos rótulos (géneros padronizados) e, consequentemente, aos géneros do discurso (o “dejá vu”) - como contraparte ou (com)sequência : a) da ambivalência narrativa (emersa num discurso paranóico e psicótico); b) do sujeito desejante, sujeito do inconsciente, que permeia os (não) ditos do texto em questão; c) dos fantasmas (introjecção e incorporação); d) dos simulacros (levando em conta os materiais patogénicos). Há uma ordem ou desordem que actua. Daqui nos colocarmos em posição de “entender” a presença de não-ditos no interior do que é dito.

(De)composição, (dis)funcionamento

Seisgmundo Freud tinha já compreendido que a matéria corporal estava sempre sobre a suspeita de ser aviltante por conservar em si a memória da condenação ancestral que a carrega do opróbio da bestialidade. É claro que os textos de Virgílio Liquito não se contentam com enunciar o corpo fantasmático, o gozo, as feridas do simbólico mais que as feridas simbólicas. Ressalta uma particularidade interessante: a fixação sádico-anal, constatável na neurose obsessiva, os disfuncionamentos fisiológicos-orgânicos, gastro-intestinais, a proximidade ou “familiaridade” com a (de)composição. Reduz-se a ser uma escrita de aportações auto-biográficas - um compêndio de um complexo freudiano, onde se explora e potencia a morbidez patológica?

Traço-significante da miséria

Nos seus textos vislumbra-se, mesmo assim, tal como podemos reconstituí-lo, a interrogação angustiada do sentido da existência - o traço-significante da miséria a que chamamos a emergência da agressividade constitucional do humano - e o rastro do transbordamento pulsional (reconhecido como traumático) no regime fálico. O nosso autor não se contenta com enunciar a beleza de um sublime devaneio onírico e a brutalidade sem álibis no sofrimento psicótico. Prefere, antes, insistir na promulgação e glorificação arquétipa do sórdido? Uma nova categoria estética – o excrecionismo – surge, assim concebida, levando em conta a “atracção, mitológica, pelos sedimentos fecais” (p.8). Trata-se de uma poética tributária da “ruminação”, desse “visco” que Freud chamou “libido”. Assente numa velha e nova filologia – com referências ao putrefacto - captando territoralidades - produzindo e revelando sujeitos - personagens renegação (recalque) - fazendo emergir de si efeitos-sujeito - histórias bipolares.

Tessitura arcana, extenuação

No termo deste périplo é visível, porém, na escrita de Vergílio Liquito, a sua conexão com a experimentação no escuro, a “travessia do fantasma”, a secreta patologia. A questão posta também o que se refere directamente à alquimia ou “metagénese” - enquanto “signo-sintoma” e “signo arquétipo” – do “evento Universo Detritos” (p. 9). Porque tal é o dado primeiro: a repetição-diferenciação, o díspar, a extenuação reconduzindo aos “clichés” ou à auto-imitação. Como dar consinstência ao “pathos” genital do pensamento, um fundo delirante, híbrido, evenemencial ? Nessa retomada da vulnerabilidade “interna” do homem, a sua falta de coesão, a sua divisão ? Mas que pensar, entretanto, de uma escrita-síndrome, forjada em todo um engajamento “elementar” - simbolismo – tessitura arcana da matéria? No e pelo grassar do excrementício e do urinário, o que se fixa no prazer da retenção e da erecção, a conformação entre a passividade anal e a actividade fálica (seguindo as concepções dos freudianos e kleinianos)?

Clivagem, condição paradoxal

Parece-nos claro que a existência humana não é unicamente, nem precisamente, racional e volitiva, mas também patética; o nosso carácter não é só “ethos”, mas também “pathos”, nosso devir no ser e na existência não se limita ao domínio da razão, mas que se dá no acontecer mais além do controlo racional e nossos actos. O “pathos” é um elemento configurador do “ethos” até ao ponto de converter o humano existir em condição paradoxal. Relendo e confrontando estes textos - re-traçado de com(im)possibilidades - , acabamos por nos tornar testemunhas da mutação destruidora do desejo fálico em desejo de assassínio do objecto. Insistamos em que a frequência dos mecanismos de recusa e de clivagem, as ameaças que pesam sobre a identidade, o medo de se ser possuído por uma figura monstruosa, vêm aumentar essa suspeita.

Porto, 25 de Novembro de 2010

Alexandre Teixeira Mendes

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CONJURANDO A VOZ DO ILESO - A NUVEM DO DHARMA

A OSTENTAÇÃO DOS MAPAS
- OS MANTRAS, VOZ DO SUMPTUOSO

sob a vastidão do anónimo - a emersa ostentação - dos mapas - os escombros marinhos -a nuvem do dharma -

por entre a boca e a lâmina - inenarrável - o canto e gesta - irrefutável - a erva da insónia e o vento - improvável -

os mantras - voz inatingível - ritmo sumptuoso - do inominado - os scripta védicos - em chamas -

os baús de pólvora - devassa do escasso - imperceptíveis cisternas - que ocultam - a lâmpada do indefinido -

A CABRA NA NOITE
- A MEMÓRIA DA FADIGA

o sono desabrigado - da montanha - as nuvens do inconfessável - relâmpagos - por sobre as arrecadações do anónimo -

um tiro de revólver - no soalho húmido - a memória da fadiga - para lá da pedra do infortúnio -

a cabra - na noite - que desejaste – a musa - falcão em retirada – junto às abóbadas - a beleza do inexpressivo -



A LENTE NUBLADA DO ILEGÍVEL

a nave de sal - a obcecada imagem - do inesgotável - algures - por detrás da retina - a lente - nublada - do ilegível -

pêssego indescritível - que se dissimula - na pólvora - do inactivo - lâmina - mar - inexpugnável -

manto desfeito - do opaco - a pedra - no meio da rebentação - barbatana - cabra - peixe escarlate -

luz sem nome - naufrágio sem espectador - nuvem - brancura interminável - penedo adentro -


O VAZIO DAS PEDREIRAS
- LUZ REFLECTIDA DO INCÓLUME

junto ao que desaba - o vazio - das pedreiras - as cercas e os muros –

os líquenes - que possuo - lâmina reclinada - pelo céu do intacto -

sobre a pólvora - o alento húmido - luz reflectida - do incólume -

DESERTO, ÂNSIA
- NOITE DO INVULNERÁVEL

indescritível - corpo - que se extravia - na lâmpada de cal - que entorpece -

profusão dos relâmpagos - a música do exausto - voz do insano - alucinada -

deserto - ânsia - que se dissipa - infranqueável - na noite do invulnerável -

ÊXTASE DO INCERTO

conjurando a voz - do ileso - o labirinto - êxtase - do incerto - imperceptível -

secreto pensamento - grito do sedento - o anátema divino - vazio - ínfimo -

pedra inexorável - sal e ouro - impenetrável - o incisivo corpo - do aéreo -

luz inextinguível - pela mestria do discreto – o que não cessa - acaso abolido -


NA COMPASSIVA CEGUEIRA DO INDISTINTO
- OS BRÔNQUIOS ENTRE OS SALGUEIROS

na compassiva cegueira - do indistinto - o circunscrito irrefutável - os brônquios - entre os salgueiros -

sobre o corpo do exíguo - caminhar a esmo - no bosque - pelas bátegas espessas - a presunção do labirinto -

escutando – a voz do interminável - em meio às trevas - a pedra oblíqua - vislumbrar os chakras - omissão inultrapassável -

o que subsiste no axioma do inválido - nesse assomo celeste – a voz do loquaz - indecidível ?-


Chaves/Porto - 7/8 Novembro 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

INCÊNDIO - MAR A DENTRO -
AS NUVENS DO INADIÁVEL



LUZ DO INDEFINÍVEL, DISTINTO ABSOLUTO

sob a luz do indefinível - a névoa da demência - o distinto absoluto -

a música do irreconhecível - junto ao que emudece - a voz do dúbio -


O INCÊNDIO, CORPO DO INDIZÍVEL
1.
ante a fala do espesso - o corpo - do indizível - a fímbria da luz -

no que soçobra - a escassez - a palavra do aéreo - inenarrável -

2.
as sobrancelhas escuras - íris do funesto - céu nômade - do inerte -

a espuma vazia - do desvario – o pulmão - incêndio - mar a dentro -

3.
junto das pedreiras - a iminência da voz - no que escutas - o meticuloso -

a lâmina que subsiste - na memória - o deserto que assoma - na visibilidade -


TÉNUE CORPO, SAL DO INADIÁVEL

as túlipas - que reúnes - o ténue corpo - das ruas decisivas -

o farol - pedra que resvala - na voz do emerso - o fio de erva -

a ávida retina - esvaída espuma - cal e gêsso - sal do inadiável -

a ofuscada luz - arremessada da vertigem - canto que entorpece? -


LÂMPADA DO INSACIADO

a lâmina - grito impróprio - da mente - que se imobilizou -

cabeça - láudano - torre de pedra - lâmpada do insaciado -

a avidez da palavra - voz esquiva - sinais do incongruente -

vicissitude da arte - nuvens e gerânios - a nudez do inegável -


A OPULÊNCIA, VOZ DO INAPROPRIADO

sobre a cúpula de pedra - vislumbras - a opulência - da arte –

na companhia de caravagio - iluminas - os códices - secretos –

na luz dos alpendres - retomas o que vacila - na pedra branca -

do ileso - o pão e o vinho - da poesia - a voz do inapropriado? -


VOZ DO EMERSO, CANTO DE ADONAI -

quem sucumbe ao obtuso - a explícita cifra - a cegueira irremediável -

nesse apego oracular - ante o rasgão da luz - escuta a voz do emerso -

o que se desvela - na palavra - do inconcebível - o canto de adonai?-


CORNOS DO SEDENTO

a cabra vem - ante o mar - pretexto da sombra - tácita e inerte -

sobre o ar - nesse sono de ninguém - junto da erva - um muro -

terra - que me hospeda - prata na neblina - cornos do sedento -




INFINDÁVEL OBSESSIVO
- BOSQUE IMPENETRÁVEL



ESPUMA INVULNERÁVEL, DO CONSTANTE

através da noite - o bosque impenetrável - a pedra do inerte -

a solícita voz - do incógnito - nuvem - rumor da intempérie -

a espuma - invulnerável - do constante - o céu do imerso -


O BRANCO, SOBRE A TELA ILUMINADA

quem transige com a cegueira - permanece no intacto -

retoma a minúcia dos sinais - infindável obsessivo -

o branco - circunscrito - inalterável - sobre a tela iluminada -

o que se extenua no corpo - subjugado pelo irremediável ? -

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A VEEMÊNCIA DA PEDRA, TOMAR, O BAPHOMET

1.

FRÉMITO DA LUZ

Que imagem se esvai - na opacidade da cal - sob a lâmpada esquiva -

Figura emerge - imprevisível - na noite - se desvela - inconcebível -

No frémito - da cegueira - pelas colunas da insânia - sinais do tácito -

Pelo obscuro - rente ao plausível - - traz consigo - a luz inesgotável ? –

2.

BAPHOMET

Quem se furta à diligência do específico - no que perscruto - escuta o som do oblíquo?-

Junto do abrupto - ilumina - o anónimo - a figura do incisivo - a abóbada do aéreo ?-

Quem se detém na pedra - arco a céu descoberto - o baphomet - ogiva do minucioso?-

3.

NAVES DO COMPACTO

O que se desvela - na veemência da pedra - pelas naves do compacto -

Baixo-relevo - sumptuoso - cifra que a luz obscureceu - corpo inverso -

Rastro da cegueira - absorta limpidez - as imagens do incomensurável? -

4.

O IRREMIDIÁVEL GRIFO

Quem se detém - pelos sinais do disforme - na demência da luz - vislumbra - a pedra -

A exígua coluna - na cúpula do constante - ante o assombro - o irremediável grifo ?-

Sobre o baixo-relevo - retoma - a sapiência do convulso - os sinais do imponderável ?-

5.

A PROFUSÃO DO OBSCURO

Sobre as colunas - nuas - as figurações do discreto - o chão do impenetrável -

A nave - o sal - a cal - infindável abóbada - que descerras - nesse tumulto -

Os choupos - ervas - pátio amplo - sobre as águas - a profusão do obscuro -

No que concedo - as arquitecturas do aéreo - rasgão límpido - sortilégio haurido -

Número e figura - oblíqua - o não-dito - secreto cambiante - pedra do inexprimível? -

8 de Agosto 2010

A MEMÓRIA DEVASTADA

DAGUERREÓTIPO

O daguerreótipo - sobre as águas - a sereia do intransponível – falésia - mar do intacto -

Branco que emudece - prado - bosque do desperto - lábios - áurea medida do discreto -

Nuvem convulsiva - memória do impróprio - a inextinguível lâmina - o ar repleto -


DESMESSURADO OBSESSIVO, CAOS

Dir-te-ei o furtivo corpo - a voz do absorto - desmesurado obsessivo - caos -

Entre os gerânios - a areia do furtivo - a obscura pedra - opacidade do sono -

A lâmpada convulsa - que se desprende - na lâmina humedecida - a erva do exacto?-


MAPA, SAL DO EXÍMIO

Simetria da luz - pelo relâmpago da insónia - o obscuro reflectido - corpo do insaciável -

A memória devastada - do impenetrável - mapa - sal do exímio - a retina alucinada -

O que subsiste no inócuo - lâmina acesa - sobre o que se dissipa - a voz do incógnito?-


O DESASTRE OBSCURO

Sobre a cisterna - a água do indefinível - o revólver e a morfina -

Da escrita - a luz - lâmina do estupefacto - desastre obscuro -

O grito - voz do omisso - rasgão límpido - incêndio inabalável -


OS LÍQUENES DA INSÂNIA

Os líquenes da insânia - o sémen - quietude do branco – inadiável ? -


LUZ DO INOMINADO

A pedra do unânime - voz do célere - morfina - luz do inominado ? -


PULMÕES DO ÍNGREME, GEOMETRIA DO ESCASSO

Sob o incêndio - a lâmina - ossos e campânula - a geometria do escasso -

Entre os açudes - os pulmões do íngreme - a generosidade dos mapas -


FALÉSIA, CAL HÚMIDA

Cegueira que me obceca - a demência e o pavor - falésia - cal húmida -

A voz do célere - quietude do branco - memória do omisso - céu ininterrupto -


MAR INTERMINÁVEL, DEFLAGRAÇÃO DO IRRESOLUTO

O deserto - predilecção do inverso - mar interminável - a deflagração do irresoluto -

Nuvem e lâmpada do austero - traço inflexível - sobre o que se dissipa - o incógnito -

A pupila trémula - o bosque – solícito cavalete - ofuscado zelo dos alpendres -


QUEM SE FURTA AO EXASPERADO, A LÂMPADA

quem emerso no sono - ante - a veracidade da pedra –

fixa a língua homicida - a torre - a nudez desdobrada -

o mar incessante - por entre o sal do esparso - o tácito -

quem se furta ao exasperado – a lâmpada - nuvem do incólume -

sobre as águas - arco e saber antigo – o corpo incendiado? -

A CABRA SOBRE A PEDRA DO DISCRETO

- CASTANHEIROS DO IRRECUPERÁVEL

os castanheiros - na noite - a cabra que me embala - páteo do discreto -


sobre a pedra do instável - o desvario - a nuvem - clarão da escrita -


a céu aberto - a lâmpada da insânia - grito - voz do irrecuperável -


a música do recôndito - em seu dorso - o pêlo – porte altivo - abissal segredo -


terça-feira, 14 de setembro de 2010

ANTE O ÁGORA, ESCONJURAS TODO O ULTRAJE,

O ESCUSADO, NADA BRAHMA


Na avalanche dos incontinenti - permaneço à deriva -

Pelo inepto - o procedimento do caos -

Tudo se volve anomalia selvagem - clinamen -

Receptáculo do letal - teatro da escassez - potestas -

Ante o ágora - esconjuras todo o ultraje - o escusado -

Nada brahma - todo o fardo do incurável absoluto -

Submerso na mobilização - a pressuposição do pânico -

Abeiras-te do cinismo - a política do exíguo ?-

Na consonância do miserável - vislumbras o extraviado -

A intempérie - os lupanares do nefasto ?-

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A TRAFICÂNCIA DO IGNÓBIL

1.

permaneces na veemência do ilícito - a insuficiência do discernimento - a súplica -


sobre o impassível assimétrico - indagando o embuste - a traficância - do ignóbil -


vislumbrando a indescritível – res publica - o que subsiste - inadiável - rendição ?-


2.

quem se rende ao carreirismo - a omnipotência e a impunidade - do poder - obscuro -


regressa à profussão do inenarrável - a lúgubre tribulação da democracia - o que repugna - o caduco – medo? -



A PRECISÃO, OLHO CÂMARA DE DZIZA VERTOV


Sob os arcos - a fímbria da luz - o suspenso mapa - da intempérie -


Corpo do táctil - ténue plenitude das pedreiras - a lâmina do avêsso -


As granadas e a morfina - cúpulas e torres - nuvem - lâmpada de cal -


O dilúvio - sal do esparso - invisibilidade - eloquência que perscrutas -


A precisão - olho-câmara de dziza vertov - os fotogramas do irredutível -


O studium - areia do furtivo - na orla do bosque - a voz entre os gerânios -


O que se retrai na palavra fugaz - pelas imagens do esparso - inalcançável? -



terça-feira, 6 de julho de 2010

A PELÍCULA INCENDIADA, DENSO MAR DO SONO


JEAN EPSTEIN, FINIS TERRAE, BRETANHA INDEFINÍVEL

dir-te-ei a desvanecida imagem - as dunas do interminável - para o norte - o bote -

o que se dissipa - na lâmpada de pedra - a minúscula boca - do inclemente – as ilhas -

a faca do fidedigno - os mapas - da espuma - sal - da palavra - inaudível – monólogo -

o rumor branco do exílio - finis terrae - bretanha - indefinível - lama - prata evanescente -

o entre-dizer ou nada - câmara lenta - inevitável - céu - do flagrante - o lume -

sob as águas - a película incendiada - denso mar - do sono - clamor do ileso -

o que resvala trémulo - pela memória - geografia do estupefacto - explode ? -


SONOLÊNCIA DA LUZ , AS PALAVRAS ILUMINADAS


na sonolência da luz - as palavras iluminadas - do corpo - barco - amarra – pharol -

chuva - mar e desmedida - do insólito - lâmina do instantâneo - sal do anônimo -

luz que se dissipa - mente - canto - a incessante viagem - aves - treva - do inomeado -


musa - que se desnuda - pelo relâmpago cintilante - ilhas - areia - espuma – do avesso -

água pura - junto à escotilha - o delírio - o cardume de peixes - entre as nuvens -


O SANGUE E O CÉU, DO OBSCURO

a cal e cinza - do sono - as pálpebras - sob os álamos - da insónia - o átomo ignorado -

branco arquipélago - argúcia da luz - cegueira - veracidade - estrela do resoluto -

noite e cortesia - verdes ramos - ervas de ouro - lume - estrume - vidência irrefutável -

o sangue e o céu - do obscuro - bote - usufruto da pedra - entre as lâminas -

a reverberação - vicissitude da chama - nocturna - som do ininterrupto –


A BARCA E O FAROL, VOZ DO INAUDÍVEL

fulgor dos casais - manto - absoluto - a fluência do escasso -

a torre e a pedra - da cegueira - deserto - inatingível lucidez -

o sussurro - das marés - a barca e o farol - voz - do inaudível -

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O TURVO VOCÁBULO

- O QUE FENECE NO BRANCO DO EXAUSTO

- A TOUTINEGRA E O BOSQUE

Sou a tília e o orvalho - o rumor das vagas - do mar - o tiro de revólver e as nuvens - do intransponível -

O que se refracta - ante a palavra justa - o turvo vocábulo – de antónio nobre – as lanchas dos poveiros e os vendavais -

A lamparina esmalte - no prenúncio da neve - a gralha furtiva - o lapis-lazzuli e o coral -

Sou a pedra evanescente - a luz sequiosa de junho - o alto - da encosta - o que subsiste inenarrável - no sol-poente -

A pertinência do dizer – de joyce - no que se dissipa - a lava e a espuma - no frenesim do incêndio – o pallio verde -

Sou a mansarda sobre a areia dormente - o que fenece - no branco - do exausto - imprevidente ?-

A luz insensata - no frémito das marés – a lua - o santo - a cobra - junto às águas-furtadas - a orquídea e o gerânio -

Na minúcia dos relâmpagos - a toutinegra e o bosque - os mapas do exausto e o sete-estrello - a sexta-feira de paixão -

Sou empédocles - o poeta-nato - o viandante - a lâmina nas pedreiras - a voz do tácito - várzea - em chamas -

Sobre a ponte mirabeau – o spleen - de outrora – o azul do céu - a palavra primigénia e oblíqua – de max jacob -

A saciedade do prado e do musgo - a rã dos açudes e o rinoceronte mudo - no alento do irreversível -


NUVEM, PEDRA DA ANGÚSTIA

O que sub jaz irresoluto - no torpor vocabular - da escrita - especulativa –
febril – (in)apreensível -

Na vicissitude do branco - ominipotente - o vasto tumulto - do incêndio - a opacidade da noite ? -

O bosque-tela - cúpula de luz – nuvem - pedra da angústia - a ciência do incomensurável ?-

domingo, 20 de junho de 2010

A INCONGRUÊNCIA DO EXACTO

EURÍDICE

Saber-me no irressoluto – no meio do mar - junto das cisternas – a espessa floresta – de eurídice –

Pelo livro marrom – na lâmina do tranquilo – a cal especulativa – voz branca do definitivo -

Cúpula de luz - sobre a vicissitude – dos versos - a incongruência do exacto –

Pedra húmida dos alpendres - a nave do incêndio - os arcos – os lampadários –


PEDREIRA

Tu estás diante de mim – no branco - inapreensível – da cal - a voz inflamada -

Já não posso voltar atrás - nem fixar-me no passado – pelas pedreiras – as telas - a erva do indizível -

Matei os meus bois – como um possesso - desferi o tiro da mauser – despropositado -

Sob o que deflagra – queimei o lar desabitado – os choupos - junto à água turva - o retábulo iluminado -

quarta-feira, 16 de junho de 2010

OS OBSCUROS MAPAS DO EXASPERADO

Para onde quer que me volte – os obscuros mapas – do exasperado –

A insidiosa lâmina de pedra - o branco do sal – geometria do insone -

Demência que ficou - do unicórnio - enebriado - o rumor - da tocadora de harpa -

O falcão incendiado - a convulsão das palavras - as nuvens espessas do reverso -

A cal do exíguo - o fulgor visionário – dos livros gregos - os sinais do omisso -

Nesses versos esquivos - o navio trácio – a película inacessível - hostil -

O que explode inimaginável - e resvala na voz das aves - a música do exausto -

As anémonas - do absoleto - sob a noite - a cegueira do íngreme - funânbulo pretexto -

A branca cortina do inadiável - nesse embalo - a lâmpada do arcano - o fronstipício -

terça-feira, 8 de junho de 2010

Severo Sarduy

1.

Frente ao corpo reclinado - inenarrável - a lâmpada estilhaçada -

O branco da tela - insinuante - lâmina ofuscante - que se extravia -

Na luz do avesso - a voz de severo sarduy - a música do inalterado -

2.

Sob os seus pés - a cortina branca - do arcano - a voz incendiada -

O recife de pedra e a lucidez dos líquenes - na noite - o musgo -

Inerte - a cal do ar - a torre - a voz fastidiosa - do intransponível -

A palavra do omisso -o frontispício - a nave - do indecifrável -

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A lâmina da blasfémia

Rente ao arco - a nave do discernimento - a abóboda iluminada –

Sob os gerânios tentar discernir a lâmina da blasfémia - inenarrável -

Saber-me próximo do fastidioso – na falésia de mármore - a dolência-

Junto ao teu rosto – frente ao promontório - a lucidez do ofuscante –

Nuvem do exíguo

Prescruto (te) cioso - (exasperado) - ante o esparso – o couraçado potemkim -

Sob a aura do que cessa – o incêndio - na palavra estilhaçada - do despropósito -

Inadvertido o céu – da escrita - a pedra do transe - na luz sonânbula - que emudece -

A nuvem do inócuo – o sono - em seu corpo mercurial - o branco do sal - precipitado -

O que subjaz - febril - na limpidez do obscuro - o torpor da voz - nuvem do exíguo ? -

sábado, 5 de junho de 2010

O OLVIDO E A MEMÓRIA

Sou paracelso e paul klee - o olvido e a memória - a espuma nocturna e o labirinto -

Sobre o que me cega - o exasperado fulgor - da tela - a resoluta fala - que acena - nos confins do falacioso -

Quem se costuma ao desvario - a abdicação - a mutabilidade da voz - a palavra saturada - impenetrável ? -

Sou o delírio e o lapso - a amnésia e o homem da câmara de filmar - o cisne e a rosa - o que se derrama - imprevidente - no espesso -

Conheço bem a bétula e a argila rûnica - sobre as águas – o que deflagra no incontido - em vladivostok -

Sou a neve derretida e o pêndulo insaciado - trotsky - o frémito do desassosego - a indizibilidade do relâmpago -

Contra os muros - a luz turva do discreto - o inapreensivel – a insónia da pedra e a voz do inadiável -

Sou os líquenes no alento da terra – a medusa e o corpo alado – de ossip mandelstam -o retábulo em chamas junto da cisterna - a ninfa do insone -

No que ignoro – o viajante em cada imagem - estremunhado - a veemência do peregrino e a intentio barroca -

Sou a lava e a erva insensata - a lama e o nada - para sempre - o malévolo e o insuperável -

Sou o revólver da decência e a nave do anónimo – o corvo e o sal – do ilícito – a alucinação das anémonas e carl th.dreyer -


No branco empedrado do ar - o que emudece – na vertigem - a concha muda e a lágrima contida - o que perpassa - na elegia -

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Jacob partiu



Repetiam sem pausa “Amen”
Enclausurados na antiga Cripta
Permaneciam fixos com a alma dada
E a sensualidade amordaçada
Para que Deus estavam eles virados?

O Poeta morreu, mas jazia entranhado
Em cada pedra exaltada
Outrora por aquele mal-amado,
Daqueles que queriam a verdade.

“Como Senhores, permanecem ainda por aí
Nessa ilha impalpável,
Labirinto de pensamentos cruzados,
No meio dessas Gárgulas de pedra fossilizadas?

Como viveram com a negação da Puberdade,
O enterro de todo passado,
O odor da vulva nunca ousado,
O Labor como única armada
E o esquecimento como meta alcançada?

Continua ele a vaguear nesse lugar falado?
Subterrâneos ocultos àqueles á terra fixados
Os Dados serão lançados até ao tempo inalcançável
Quem os calará?


Elisabete Pires Monteiro

No branco, o olvido

Quem perscruta o corpo do exausto - a pedra irreconhecível – o incessante - a intangibilidade do osso -

Sob as cúpulas - as naves do convincente - lembra as nereides – cartago e shakespeare -

Ante o que se apressa na nuvem do exausto - a palavra do omisso - o que se extinguiu - na putrefacção - o pão do incontido ? -

Quem permanece insaciado - no branco - o olvido - o que se dilui - impronunciável -apaziguante -

Por entre o definitivo cede à luz do insuperável - a voz do intransponível – bizâncio -

Em desvairo retoma a cegueira – o sal do opaco - o desbastado - as arcas do inacessível ? -

domingo, 30 de maio de 2010

EPIGRAMMATA

ignoro a luz do exacto - o que se apressa no branco -

ut recitem tibi nostra rogas epigrammata - nole -

saber-me insaciado - na reverência do explícito -

a pedra do insone - a lâmpada única - que resvala -

terça-feira, 27 de abril de 2010

BIRKENAU

1.

Em birkenau vivenciei o ignóbil - a infâmia -

A dor dos cárceres - no abismo da luz - o pranto -

2.

Rendido ao silêncio - a voz apátrida - fez-se muda -

Sobre chuva matutina - extraviada - o inerte -

3.

Relembro os corpos amontoados - os dias turvos -

A sinuosa trilha - do imundo e do perverso -

4.

No casario - selado de negro - tudo se dissipa –

Ladra um cão - o martírio parece não ter fim -

5.

Quem se recosta na pedra do inimaginável –

entre as lajes húmidas - na noite constelada –

Respira a custo – nos confins do frio e da desolação ?-

Revive o anelo vão da infância - a exausta linguagem ?-

6.

Quis tornar válido o milagre - e não descobri um jeito de escapar -

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A MUDANÇA E O DES-SER

1.

Sob o opaco vislumbro uma atenas corrompida - a veemência do ultraje bancário -

Sinto-me abatido e perplexo - na inanição - o cerne da fraqueza -

Meu queixume se mantém - a arraigada voz do insensato - o que se abeira do imprevisto -

2.

Ignoro a constância do desalento - as invectivas exultantes - dos comissários -

Tudo capitula com a atrocidade – a aridez capitalista - a certidão de óbito – do marxismo -

3.

Quem assiste impassível ao jogo - na conivência dos séculos com o obsceno - o fascismo consumista ?-

Desconhece a vida una - os gracejos da plebe - o profundo anelo do lumpen proletariado ?-

4.

Perco-me na desvalidade face - de karl kraus - o distante e o lendário - o que transborda -

Nada apazigua o medo – para lá do palco da saturação – quem fixa a dor desamparada – inerte ?-

5.

Sei-me na lucidez da pedra - o exílio – testemunha do erro - da fatalidade? -

Que revolução permanente sobre ti espera - se torna aridez – intangibilidade – absoluta certeza? -


6.
O canto da zelosa ortodoxia – me parece insípido - a bem-aventurança -

Sou a mudança e o des-ser - a voz do hostil e o ouro do sabat –

A ascensão ao céu e o verdugo - os gerânios sobre o branco – da anarquia -
7.

Há-de sempre bastar-me a música do fugaz - o musgo negro - da beatitude -

A ilícita fantasia ou a invenção - nos trâmites do extraordinário - o verbo-puzzle -

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A CRISE DECISIVA

1.

Quem desfila no meio de uma tempestade em chamas - inebriado -

De novo perpetua o inócuo e o insignificante - o infame - da linguagem -

Em incessante andamento - sob a curva do céu - para o extremo norte -

Quem vem pedir socorro? - Se converte em pedra - o destruído ? -

Neste perambular - desnecessário - donde vem - ilumina?

2.

Tudo se volve abismo iminente - naufrágio sem espectador - eco antigo -

Em vão procuro a enfastiada lucidez - o minotauro - o detalhe que me cega -

A crise decisiva é algo de crónico na humanidade - o tremor - inevitável -

Nenhum tempo é justo - o vazio se propaga - o unânime obscuro -

O subterfúgio impera - a catástrofe - golpe e ferida assoma -

3.

Estou apto para o circum-mundo - a casa-cárcere - o patíbulo -

O sentimento que prevalece é de um fim - de uma extinção -

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DOCILIDADE DA PEDRA

Quem acolhe o relâmpago - por sobre a erva do submerso - na luz do tumulto?

Retoma o fulgor da penumbra – a docilidade da pedra - no fundo dos salgueiros? -

Prevalece pelo absorto – o insaciado - na matéria desnuda - do cosmos ?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O IMENSCHURÁVEL, JORGE TAXA

Perplexo ante a indecibilidade - perpetuo o intrínseco -

Na detonação dos axiomas - o labirinto desconcertante -

Ilumino o obscuro – o alento irreversível - espesso - inumerável -

Prisioneiro dos antimundos - resvalo na falácia – verbal -

Da filosofia - a matemática do pretensioso - o compacto –

Atapeando o cânone do esparso - resvalo na inflexível - prosa -

Nesse intento - de uma mente em chamas - o prodigioso transe -

segunda-feira, 12 de abril de 2010

MIGUEL EYQUEM, MONTAIGNE

1.

Enclausurado no alto da torre - junto ao que resvala - invertebrado -

Perpetuo a eloquência - o que se desmorona - na criação suspensa -

A tautologia - do insigne - o que se desvanece - no implícito -

2.

Embalado no branco da luz - as nuvens - reclino-me - no fugaz -

Na ténue escrita - o vago e inconsciente - écran do corpo - ilógico ? -

3.

O nemus opacum me tenta - a musa irredutível e a filosofia -

Bagatelas - por um massacre - junto ao que capitula - a voz -

Do explícito - a eclosão da pedra opaca - a lucidez - o obstinado ? -

4.

Regressas ao sal do desespero - a esse ritmo do invulnerado -

Nos confins do exíguo ? - Rumo à perpetuidade do incêndio -

O perambular - o grito e a voz do esparso - o olhar indescritível ? -

quarta-feira, 7 de abril de 2010

MARCEL DUCHAMP

1.
O anti artista aguarda sua vez - entre os panos de púrpura - a pintura do inepto - o vórtice -

Por entre a volúpia - vagueia - no rito da carência - pelos despojos do irrepetível - o omphalos -

Mediúnico - compacto - irrompe pela lâmpada indestrutível - o ilógico - a avidez do incêndio -
2.
No que intenta - afincado e constante - permanece na impossibilidade - a cegueira dos líquenes -

Fixa o ígneo - o inconsumido corpo - a deserção e os albergues da loucura - o oblíquo transe -

3.
Súbidto do caos - do prolífico - no que entrevê - devasta - de novo -

Sob o incólume - a escala descendente - ilumina o anónimo - pretexto da manufactura - o convulso -

Pelo relâmpago do inclassificado - transforma a hábil- recôndita arte- régia - mutilada -
4.
Quem se esgueira - no elucidativo - o hábil e o conceptual - o resoluto -

Prossegue na rendição perante o purgativo - o que irradia - o ríctus extrapolar -

Junto ao que levita - retoma o arcaico - a pedra e o vôo lírico ? -

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O DESABRIGO

Confinado à inútil trégua - da filosofia - o tremor - a nostalgia -

A mais extassiada retina - sobre nada - o sono que desaba -

Saber-me na veemência do inalcançado - as nuvens do fecundo -

Torpe sussurro da voz - o sequioso corpo - ao desabrigo -

Nenúfares - náufrago que pressinto - o interruptor metálico -

Lanterna - luz da cera que vislumbro - o rumor das orquídeas silvestres -

quarta-feira, 31 de março de 2010

ANTONIN ARTAUD

1.
Porque náusea - gerânios e escombros de alma - aresta facetada -

Mutação da dor - o delírio - sobre o cérebro – porta giratória –

Desfiguração - caos estomacal - poema inconcebível - transe -

Diz: porque pulsos expectantes - opacidade - lanterna obtusa -

Máscara petrificada - chama intacta - ressequida - osso indelevel-

Diz: porque inconsistência – lucidez - inaplacável desespero -

Ou asfixia - pesa-nervos – voz de pedra - humanidade morta - rodez -

Diz: porque o inexorável - negro céu - o demónio eloquente? -
2.
Porque o inescrutável – a conversão - o poema lúcido - a dose de peyotl -

Diz: porque o cataclismo – o corpo voraz - paralítico - a cura - o pedestinado passamento -

Ou voz do impróprio - a unânime morada do inflamável - as instruções do naturalismo mágico -

Porque a ressonância - dos tarahumaras – a fulgurância das vastidões vazias –

Diz: porque a bruxaria fisiológica – o rastejar – na lava – o inominado? -

terça-feira, 30 de março de 2010

WALTER BENJAMIN

Em porto bau - a pólvora do resoluto - a morfina do fugaz - as visões -

Desse mundo inapreendido - a voz do esotérico - os relâmpagos - da iluminação profana -

Saber-me na veemência do obscuro – o que ousa ser a falência – do anjo da história –

No que abdiquei - a possessão do corpo – o inevitável delírio - bolchevique -

Sobre o vazio - a nudez da pedra - o único e a sua propriedade – a decência -

Sobre o que inventamos – o inútil comedimento – a irrecusável luz - do mar -

Partir esquecendo os marinheiros de kronstadt - a santificação da revolta -

segunda-feira, 29 de março de 2010

ALENTO DA INSÂNIA - O ELUCIDATIVO

1.
Quem acende a lâmpada do inabalável - a luz do nada -

Permanece no alento da insânia - a lonjura - o elucidativo -

Sobre a demência da pintura - retoma a voz do irrecusável ? -

2.
Quem irrompe pelo exausto - o furtivo - o irreversível corpo -

Na tela - junto ao cavalete - celebra a intransponível - sombra -

O que se desdiz no apelo lácteo - a música - a arte do inabitual ? -

3.

Sobre a desaparição - o fulgor do branco - o que se apressa no hábil -

Resvala na loucura - o traço adicional - a geometria do inesperado -

O surgir do abrupto - a claridade - onde transpões a labareda do hostil -

quarta-feira, 24 de março de 2010

ERWIN PISCATOR

1.
Sobre as abóbadas iluminadas - o palco artesanal - invulnerado -

O studio - de erwin piscator - desaprendendo o mundo - a desfazer-se -

2.
Através da caducidade da voz - quem cede ao movimento perpétuo –

A convulsão das palavras - sobre a luz pulsante - decapitada ? -

3.
O exercício da queda - inconcebível - o fragmentarium - corpo -

Núcleo e periferia - o fôlego do teatro épico - inapreensível -

Trazendo algo de muito remoto - a tribuna política - a cura mágica -

sexta-feira, 19 de março de 2010

BALTHUS

Diante do sono branco - pelo entardecer - o atelier - de balthus -

O que desdobra na luz desamparada - obscura - hermética -

As visões anacrónicas - da pura permanência - o monólogo - o grito -

O que assoma na nudez - o corpo incendiado - a veracidade adolescente -

Símbolos e imagens - relâmpagos ocultos – nas vidraças - crayons do esplendor -

Diante do que se esvai na loucura - a elegia - o signo-senhal - o sete-estrelo -

quinta-feira, 18 de março de 2010

VIENA DE WITTGENSTEIN

1.
Arremessado sobre a noite escura – quem escuta o torpor da voz de wittgenstein ?

O intermitente corpo da musa - denso solilóquio - voz amante - do insano –

Vasto senhorio da philosophia - o indizível - a linguagem-mundo - inefável ? -

2.
No frémito de viena - o dúbio clamor das arestas – klint e seu modelo –

Entre estrelas - o indelével som de schöenberg – lâmpada sobre o abismo -
3.
A profusa demência - de karl kraus - posse fugaz e causticante – nas noites da insónia – o teatro de poesia -

Súbita a face andrógina de weininger - ríctus fálico que exibo -

arremetido corpo - onde se desnuda teu rosto e te ocultas - inconsútil mefistófeles -

4.
O ímpeto do verbo escuro - minha fraqueza - vertige du déplacement -

O que subsiste - no solilóquio - acarência - voz do estático -

A irrepetível carta de lord chandos - inconstância pressentida? -

quarta-feira, 17 de março de 2010

MARRAQUEXE

Sob a campânula os in-fólios - a pedreira -

Luzes e sombras - a brisa do entardecer -

Deter-me nas vitrines - a discórdia da arte -

Prolongar o ilícito - o som do deserto - funânbulo pretexto -

Junto a um postal ilustrado de marraquexe

Saber que embarco e perpetuo a insónia do corpo

A inapreensível voz do ténue - o plausível -

A lucidez antes de cair por terra - o esparso -

Fiel ao obtuso - a música do inenarrável -

terça-feira, 16 de março de 2010

RETÁBULO EM CHAMAS - DORA MAAR

Quem se detém na voz alucinada - o retábulo em chamas -

Desliza pela infância - sob a lava - a memória do irreversível?

Junto ao retrato de dora maar - prossegue mudo - sobre a luz depurada?

Quem contempla pela derradeira vez a nuvem branca - o ímpeto do falacioso -

Por cima das velhas naves do incerto - vislumbra a pedra profanada ?

Porto, 16 Março 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

DANDY

Sob a sonolência de heliogábalo busquei a lucidez do dandy stendhaliano

Tornei-me irrelevante - anónimo - a mosca de diógenes - o fôlego de adónis -

Abotoado como george brummel - a la recherche d’ une parole perdue -

Permaneço junto das túlipas - na voz diáfama de callímaco -

Sou o hóspede clandestino - que indaga a palavra do omisso -

A penumbra e o silêncio - o corpo ocioso de alcibíades -

Sou a erva húmida e o júbilo desnecessário - a indiscrição da pedra - antínoo -

O que se aprimora no frívolo - a suplicação do artifício – o intransponível spleen -

Porto, 14 Março 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

SEREIA

Lembro um diagrama antigo - a melancolia mesopotâmica - um resto de nogueira de altenburgo - um cacto na minha parede do sexto andar – o retrato do jovem ésquilo ali mesmo – sob a ponte de brooklim – a amplitude do deserto - sempre recomeçado - a terra extenuada que me prende – voz inimitável – da sereia – que me impele à doce ciência de que vivo - o cemitério marinho – sobre o ouro e a pedra – inflexível –