sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

UM MAR DE LILASES

- LIBÉLULA, PRAÇA DE PEDRA
1.
em caminha retive as imagens da insensatez - na órbitra do incêndio - adormeci -

junto às velhas muralhas - sobre as quatro vigas - do atelier - abeirei-me do improvável - a morna sonolência das pedreiras - os juncos -

2.
sou safo catulo e villon - moisés e elias - o porto e a baía - no seu corpo convulso -

a maresia - o tigre astucioso e o cipreste - a desvanecida alga - em chamas - sobre um livro -

a areia exacta e a fímbria da pedra - a libélula esquiva - a coroa astral -

a voz recôndita e a praça dourada - de pó - a música do incompreensível -

o que se esvai - na onda viril - do intacto - a página branca - a cegueira do visível -

3.
quem se inscreve nesta viagem - pelos albergues da loucura - fome do sedento -

caminha sobre um mar de lilases - os cardos - pelo inconstante - a lanterna da prece - as imagens do límpido? -

4.
no calor das águas furtadas - vislumbrei - a sua cabeleira solta - a loucura secreta - da sereia -

suspenso na nudez tremente - infranqueável - contemplei - o seu sexo - clarão - sob o céu obscurecido -

por detrás do lençol - os ombros - o mais fremente -
5.
no desvalido corpo - da pintura - o ouro do sabat - um freixo - a voz diáfana -

a pedra opaca - sobre a luz dos relâmpagos – que sobe do meu peito - o granizo - penetrando nos ossos - ?

6.

permaneces quase a descoberto - numa voz escondida - repassada de cal - na erva húmida -

o fuscado pelo pudor - a lâmpada muda - mar anunciado - azul exultante - onde a pietas habita - o grito - entre aberto ?

Porto, 4 Dezembro 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário