quarta-feira, 31 de março de 2010

ANTONIN ARTAUD

1.
Porque náusea - gerânios e escombros de alma - aresta facetada -

Mutação da dor - o delírio - sobre o cérebro – porta giratória –

Desfiguração - caos estomacal - poema inconcebível - transe -

Diz: porque pulsos expectantes - opacidade - lanterna obtusa -

Máscara petrificada - chama intacta - ressequida - osso indelevel-

Diz: porque inconsistência – lucidez - inaplacável desespero -

Ou asfixia - pesa-nervos – voz de pedra - humanidade morta - rodez -

Diz: porque o inexorável - negro céu - o demónio eloquente? -
2.
Porque o inescrutável – a conversão - o poema lúcido - a dose de peyotl -

Diz: porque o cataclismo – o corpo voraz - paralítico - a cura - o pedestinado passamento -

Ou voz do impróprio - a unânime morada do inflamável - as instruções do naturalismo mágico -

Porque a ressonância - dos tarahumaras – a fulgurância das vastidões vazias –

Diz: porque a bruxaria fisiológica – o rastejar – na lava – o inominado? -

terça-feira, 30 de março de 2010

WALTER BENJAMIN

Em porto bau - a pólvora do resoluto - a morfina do fugaz - as visões -

Desse mundo inapreendido - a voz do esotérico - os relâmpagos - da iluminação profana -

Saber-me na veemência do obscuro – o que ousa ser a falência – do anjo da história –

No que abdiquei - a possessão do corpo – o inevitável delírio - bolchevique -

Sobre o vazio - a nudez da pedra - o único e a sua propriedade – a decência -

Sobre o que inventamos – o inútil comedimento – a irrecusável luz - do mar -

Partir esquecendo os marinheiros de kronstadt - a santificação da revolta -

segunda-feira, 29 de março de 2010

ALENTO DA INSÂNIA - O ELUCIDATIVO

1.
Quem acende a lâmpada do inabalável - a luz do nada -

Permanece no alento da insânia - a lonjura - o elucidativo -

Sobre a demência da pintura - retoma a voz do irrecusável ? -

2.
Quem irrompe pelo exausto - o furtivo - o irreversível corpo -

Na tela - junto ao cavalete - celebra a intransponível - sombra -

O que se desdiz no apelo lácteo - a música - a arte do inabitual ? -

3.

Sobre a desaparição - o fulgor do branco - o que se apressa no hábil -

Resvala na loucura - o traço adicional - a geometria do inesperado -

O surgir do abrupto - a claridade - onde transpões a labareda do hostil -

quarta-feira, 24 de março de 2010

ERWIN PISCATOR

1.
Sobre as abóbadas iluminadas - o palco artesanal - invulnerado -

O studio - de erwin piscator - desaprendendo o mundo - a desfazer-se -

2.
Através da caducidade da voz - quem cede ao movimento perpétuo –

A convulsão das palavras - sobre a luz pulsante - decapitada ? -

3.
O exercício da queda - inconcebível - o fragmentarium - corpo -

Núcleo e periferia - o fôlego do teatro épico - inapreensível -

Trazendo algo de muito remoto - a tribuna política - a cura mágica -

sexta-feira, 19 de março de 2010

BALTHUS

Diante do sono branco - pelo entardecer - o atelier - de balthus -

O que desdobra na luz desamparada - obscura - hermética -

As visões anacrónicas - da pura permanência - o monólogo - o grito -

O que assoma na nudez - o corpo incendiado - a veracidade adolescente -

Símbolos e imagens - relâmpagos ocultos – nas vidraças - crayons do esplendor -

Diante do que se esvai na loucura - a elegia - o signo-senhal - o sete-estrelo -

quinta-feira, 18 de março de 2010

VIENA DE WITTGENSTEIN

1.
Arremessado sobre a noite escura – quem escuta o torpor da voz de wittgenstein ?

O intermitente corpo da musa - denso solilóquio - voz amante - do insano –

Vasto senhorio da philosophia - o indizível - a linguagem-mundo - inefável ? -

2.
No frémito de viena - o dúbio clamor das arestas – klint e seu modelo –

Entre estrelas - o indelével som de schöenberg – lâmpada sobre o abismo -
3.
A profusa demência - de karl kraus - posse fugaz e causticante – nas noites da insónia – o teatro de poesia -

Súbita a face andrógina de weininger - ríctus fálico que exibo -

arremetido corpo - onde se desnuda teu rosto e te ocultas - inconsútil mefistófeles -

4.
O ímpeto do verbo escuro - minha fraqueza - vertige du déplacement -

O que subsiste - no solilóquio - acarência - voz do estático -

A irrepetível carta de lord chandos - inconstância pressentida? -

quarta-feira, 17 de março de 2010

MARRAQUEXE

Sob a campânula os in-fólios - a pedreira -

Luzes e sombras - a brisa do entardecer -

Deter-me nas vitrines - a discórdia da arte -

Prolongar o ilícito - o som do deserto - funânbulo pretexto -

Junto a um postal ilustrado de marraquexe

Saber que embarco e perpetuo a insónia do corpo

A inapreensível voz do ténue - o plausível -

A lucidez antes de cair por terra - o esparso -

Fiel ao obtuso - a música do inenarrável -

terça-feira, 16 de março de 2010

RETÁBULO EM CHAMAS - DORA MAAR

Quem se detém na voz alucinada - o retábulo em chamas -

Desliza pela infância - sob a lava - a memória do irreversível?

Junto ao retrato de dora maar - prossegue mudo - sobre a luz depurada?

Quem contempla pela derradeira vez a nuvem branca - o ímpeto do falacioso -

Por cima das velhas naves do incerto - vislumbra a pedra profanada ?

Porto, 16 Março 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

DANDY

Sob a sonolência de heliogábalo busquei a lucidez do dandy stendhaliano

Tornei-me irrelevante - anónimo - a mosca de diógenes - o fôlego de adónis -

Abotoado como george brummel - a la recherche d’ une parole perdue -

Permaneço junto das túlipas - na voz diáfama de callímaco -

Sou o hóspede clandestino - que indaga a palavra do omisso -

A penumbra e o silêncio - o corpo ocioso de alcibíades -

Sou a erva húmida e o júbilo desnecessário - a indiscrição da pedra - antínoo -

O que se aprimora no frívolo - a suplicação do artifício – o intransponível spleen -

Porto, 14 Março 2010